29 agosto 2016

Folclorite Aguda em Viana do Castelo


As danças, trajes e cantares tradicionais portugueses são ricos, vivos e vistosos. De certa forma isso constituiu uma infelicidade. É sabido que nos tempos do Estado Novo foi feita uma promoção do país e da alegria e riqueza de cá viver, usando e abusando dessa tal espetacularidade, em prejuízo do rigor e do respeito pela verdadeira cultura tradicional.

Posteriormente, principalmente a partir da década de 80, foi feito um esforço de correção de alguns hábitos consagrados pelos grupos folclóricos, anacrónicos quanto à época supostamente representada, que é a dos finais do século XIX, início do século XX, pré-implantação da República. Esses erros incluem a estilização (e mesmo a invenção) de alguns trajes, exposição indecorosa (para a época) de atributos femininos e são particularmente relevantes na área musical, a nível de naipe de instrumentos e na forma como são tocados, com evidente resistência a serem corrigidos.

Recentemente na romaria da Sra Agonia, em Viana do Castelo, terra muito ciosa das suas tradições e preservação das mesmas, vi um grupo, supostamente autentico, deliciar o público com uma versão “folclórica” do “Havemos de ir a Viana”, popularizado por Amália Rodrigues. Está bem que o povo gosta e adotou a música, independentemente da sua origem. Está bem que quando um dia se revisitarem as músicas populares desta época estará lá certamente “os peitos da cabritinha”, mas, no mínimo, com outros trajes… espero.

Há uma fronteira entre o domínio criativo de inspiração popular e o trabalho autêntico de reconstituição de tradições. Essa fronteira pode ser atravessada, mas com sinalização clara e não nesta promiscuidade leviana. Trabalho cultural deve ser sério e não uma palhaçada que não merece o mínimo respeito. O povo merece mais.

6 comentários:

Homens Racionais disse...

Por acaso tens aí um excelente ponto de vista. Inclusive, tenho visto em Viana do Castelo verdadeiras aberrações que atentam contra o folclore minhoto. Coisa tais como tocadores de tambor sentados em banquinhos qual bateristas em um concerto de rock. E mais, cantadeiras que têm excelente voz mas é para cantar no coro da igreja. E se isso não bastasse, o pouco ou nenhum discernimento de colocar um violino numa tocata de um grupo folclórico. E isso porque nem sequer quero entrar no mérito de falar de grupos que chegam a por mulheres dançando apenas de saiote. Que os deuses do folclore nos ajudem na nossa cruzada para a defesa do folclore do Alto Minho!!!

Homens Racionais disse...

Por acaso tens aí um excelente ponto de vista. Inclusive, tenho visto em Viana do Castelo verdadeiras aberrações que atentam contra o folclore minhoto. Coisa tais como tocadores de tambor sentados em banquinhos qual bateristas em um concerto de rock. E mais, cantadeiras que têm excelente voz mas é para cantar no coro da igreja. E se isso não bastasse, o pouco ou nenhum discernimento de colocar um violino numa tocata de um grupo folclórico. E isso porque nem sequer quero entrar no mérito de falar de grupos que chegam a por mulheres dançando apenas de saiote. Que os deuses do folclore nos ajudem na nossa cruzada para a defesa do folclore do Alto Minho!!!

Carlos Sampaio disse...

Respondendo, por partes:

1- Percussão - independentemente da posição de quem toca, o fundamental é não desvirtuar o balanço da música e isso nem sempre é garantido. Muitas vezes o próprio ritmo é ridiculamente acelerado.

2- Cantadeira - no passado toda a gente com voz e afinação cantava. Ou "cantadeira de folclore" é apenas a esganiçada e estridente a cantar meia oitava acima do tom "natural", na sequência da introdução da concertina?

3- Violino - O violino/rabeca está corretíssímo nos grupos folclóricos pelo menos do norte litoral. Era utilizado na música popular na época a que os grupos se referem. O que está erradíssimo é o acordeão que só chegou muito depois.

4- Saiotes - Vêm-se efectivamente muitos e nem sempre com o tamanho correto.

Mais desenvolvimento em:

http://glosa-crua.blogspot.pt/2013/12/eu-e-musica-tradicional-portuguesa-o.html


Jorge91 disse...

Qual a diferenca entre um violino e uma rabeca?

Carlos Sampaio disse...

Eu não sou certamente o melhor preparado para responder a essa pergunta, mas tanto quanto entendo: violino é um instrumento específico; rabeca é uma designação genérica para um pequeno instrumento de cordas, tocado por arco.

O que digo acima, é que para a época a que se reportam os grupos folclóricos, fim sec XIX, início séc XX, é perfeitamente correto existirem nas tocatas instrumentos de corda tocados por arco, seja o clássico violino, seja uma variante (rabeca) menos ortodoxa.

Bruno Rocha disse...

Principalmente o tamanho do braço do instrumento. Cumpts