16 agosto 2016

A pólvora e os rastilhos

Se vivêssemos com um barril de pólvora aberto em cada esquina era muito provável que mais tarde ou mais cedo, por acidente ou vandalismo, alguns fossem explodindo. Podíamos reforçar a vigilância, aumentar as penas para os vândalos e os distraídos, investir em meios para apagar incêndios, mas nunca teríamos uma situação segura.

A pólvora dos nossos incêndios de verão chama-se biomassa: o mato e os ramos secos altamente inflamáveis que por ali andam. Podem ser usados para gerar energia! E se se criasse uma rede de centrais de biomassa para produzir energia com a biomassa florestal ao longo do país? Uma ideia que não é nova. Tentou-se implementar há 10 anos, abrindo-se um concurso para licenças para 15 centrais de biomassa, de norte a sul do país, totalizando 100 MW. Tanto quanto sei, das 15 apenas avançou a construção de 2 ou 3 e ignoro se ainda estão em produção. Sobre as razões da falha, será interessante começar por analisar o perfil e a experiência no sector dos vencedores dos diferentes lotes do concurso.

Entretanto, a mal amada indústria da celulose, investiu, construiu e opera centrais de biomassa. Qual a diferença entre os papeleiros e os felizes contemplados do concurso das 15 centrais? Apontaria duas principais: têm um local industrial onde a central é uma extensão, aproveitando evidentes sinergias e reduzindo custos fixos, e conhecem a floresta e o respetivo mercado.

Se existe um problema de viabilidade económica com a cadeia de valorização energética da biomassa florestal, ele também não se resolve aumentando o preço de compra dessa energia, porque aí ainda iriamos ver castanheiros e carvalhos a servir para lenha. Na minha opinião, a solução passar por analisar essa cadeia com todos os intervenientes e considerando todos os custos que o não retirar a biomassa potencia. Quem entende de floresta como a indústria de papel e da madeira e alguns serviços públicos de terreno, pode certamente ser parte importante da solução.

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