10 agosto 2016

Entre o Mozart e os 4 acordes

Contaram-me que numa dissertação sobre música se destacava o fosso existente entre a chamada música erudita e toda a restante, referindo-se que uma grande parte (para não dizer a totalidade…) dos sucessos da música ligeira se baseia na mesma sequência de 4 acordes. Até há um vídeo humorístico em que um conjunto passeia por uma vintena de “sucessos” (eu só reconheci 2 ou 3), sempre com o mesmo enquadramento harmónico.

Sim, é verdade que há muita música paupérrima, sempre igual, com estrutura repetitiva, que não merece muito crédito. Sim, mas a alternativa a isso é apenas o Mozart e companhia? Na minha opinião não é. Há inúmera música bem-feita e cuidada para lá da tal “erudita”.

Depois, e num paralelo com outra forma de expressão artística, a escrita, um texto de vocabulário pobre será provavelmente pobre, mas é acrescentando palavras caras e complexas que ele se torna um bom texto? Não necessariamente. Podemos ter um texto simples e belíssimo. Aliás, muitas vezes, o desafio é mesmo esse: ser simples e belo.

Gostos não se discutam e em função da experiência, formação, sensibilidade e até mesmo disposição, cada um terá maior ou menos disponibilidade para um certo tipo de música, mais elaborada ou mais simples. No entanto, presumir essa separação entre o bom, erudito, e o mau, tudo o resto, é um pedantismo que a (boa) música dispensa.

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