21 setembro 2015

É um rio e não um lago

Parece-me assustadoramente ligeira e mal refletida a forma como a comunicação social e os políticos estão a tratar a questão dos migrantes. Até há bem pouco tempo, todos eram emigrantes ilegais a repelir, agora parece que são todos refugiados (e sírios) a acolher. Ambas as visões não estão corretas. Quando se fala em abrir as fronteiras está-se a cometer um erro de leitura e de escala tremendo. Não está em causa receber um número mais ou menos fechado de 100 ou 200 000 pessoas; está em causa um fluxo contínuo que pode chegar a 10 000 pessoas/dia e que não esgota tão cedo. Não estamos a esvaziar um lago; estamos a receber um rio.

A decisão da Alemanha de fechar as fronteiras era perfeitamente previsível, apenas uma questão de tempo. Pretender redistribuir o fluxo pelo resto da Europa é outra questão de tempo. Enquanto se falar de quotas com valores fechados, está-se a persistir no equívoco.

Na origem dos problemas estão as guerras. Apontar individualmente imperialistas americanos, agressores israelitas, arrogantes monarquias do golfo, fundamentalistas iranianos, oportunistas franceses ou intervencionistas russos, etc., conforme a simpatia política ou cultural, é outro erro grosseiro.

Contribui também, e muito, o desgoverno em tantos países. Aqui o problema é bastante mais complexo, porque se cruza a direito à autodeterminação com a manifesta incapacidade de criar uma sociedade minimamente justa, próspera e digna. Existem desgraçados, certamente. Para lá de não poderem vir todos para a Europa, ficar simplesmente emocionado com as imagens da desgraça, é muito pouco.

Sem comentários: