24 agosto 2015

Um acto de coragem


Calmamente subiram ao palco do festival de folclore. Não tinham acordeões nem estridências, não dançavam nem rodopiavam. Na voz belíssima da cantadeira ouvíamos que “Quem vai ao Senhor da Pedra, vai ao céu e torna a vir”. Estávamos em Arcozelo e, por acaso, o Senhor da Pedra era mesmo ali ao lado. Nos inícios dos anos 80, apresentarem-se assim naquele contexto era um acto de coragem.

A voz em causa, que não levava ao céu mas pouco menos, pertencia a Isabel Silvestre, integrada no Grupo de Cantares de Manhouce. Quem está minimamente atento ao que se tem passado no campo da música tradicional portuguesa saberá bem de quem se trata.

Soube recentemente estar em curso uma iniciativa pública de obtenção de fundos para a edição decente de um novo trabalho dela. Nestes tempos em que qualquer um sem sair da sua sala, pode ouvir tudo o que quiser a custo nulo, ou quase, editar trabalhos bem produzidos que se querem, que compram, que se guardam e para os quais precisamos de contribuir, é também um acto de coragem. Neste caso concreto, este acto de coragem está ligado a algo de rico que temos, com tanto de rico quanto de frágil, que é a cultura popular, particularmente na sua vertente musical.

Porque sou português e aprecio actos de coragem, muito especialmente quando está em jogo a cultura e o meu país, irei subscrever.


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