15 junho 2015

Tribos do subdesenvolvimento

“Existem grupos no seio da organização que agem de acordo com interesses próprios, mesmo que estes prejudiquem os objetivos mais amplos da organização?”

Esta pergunta integrava um inquérito, parte do estudo “Valores, Qualidade Institucional e Desenvolvimento”, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e abrangendo EDP, ASAE, CTT, SNS/Hospital de Santa Maria (HSM), Bolsa de Lisboa e Autoridade Tributária. É um estudo estruturado. As suas conclusões não são resultado de simples entrevista de rua nem palpites de comentador “todo o terreno”.

Entre vários pontos positivos e negativos sobre cada organização, é referido que no HSM existem grupos de interesses poderosos, associados a partidos políticos e a outros “sindicatos”, mais ou menos camuflados. Esta menção que não resume nem deveria resumir o estudo, ecoou e trovejou, entre aplausos, repúdios e até ameaças.

Um português minimamente informado e consciente sabe que quintas, quintinhas, capelas e capelinhas são uma triste realidade em muitíssimas organizações e um dos maiores entraves ao desenvolvimento. Não é por o HSM ter 60 anos de vida que ganhou o direito a não ser citado. Até que ponto lojas maçónicas e organizações católicas, se bem que com matrizes antagónicas, funcionam perniciosamente (realço a forma interrogativa) como “sindicatos de interesses”?

Privilegiar a meritocracia passa por acabar com a cultura das quintinhas e o primeiro passo é identificar e caraterizar o fenómeno. Se o método usado não foi o ideal, discuta-se outro. Enterrar a cabeça na areia ou fazer de virgem ofendida não ajuda nem convence.

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