11 março 2015

A não fotografia do ano


Ainda não são 8 horas da manhã e rolo há mais de uma hora na estrada Rabat – Beni Mellal, quase sempre sob nevoeiro, daqueles que tornam difícil qualquer ultrapassagem, por mais longas que sejam as rectas. Alguns quilómetros antes de Romani, anuncia-se uma mudança. O Sol quer romper e ainda bastante horizontal.

À minha frente ilumina-se um pano de fundo branco e brilhante. Como se se tivesse aberto uma janela a toda a altura e largura do cenário, jorrando uma luz intensa, dando um aspecto fantasmagórico ao contraluz das arvores na berma da estrada.

O mais impressionante está para vir a seguir. Um grupo de gente a trabalhar no campo, curvados, de frente para a parede de luz. Parece uma celebração. Atónito, abrando, apreciando aquela visão incrível, para desespero do “grand táxi” colado atrás de mim, já antes irritado pela minha velocidade no nevoeiro. Saboreio a imagem e penso: que fotografia fantástica isto dava…!

Rolo mais umas centenas de metros, pressionado pelo “grand táxi”, pensando se volto mesmo para trás ou não, para o registo precioso. Não voltei e ganhei o lamento de ter perdido a fotografia do ano… Fiquei com a imagem gravada e acrescentei-lhe uma mensagem: nem tudo na vida necessita de ser fisicamente registado. A beleza indiscutível dispensa registos obsessivos: basta a sua recordação na nossa memória.

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