16 fevereiro 2015

Religiões a quatro tempos


A forma como as religiões são vividas pelos seus crentes inclui, na minha opinião, quatro tempos.

1) O tempo da espiritualidade. O homem face às suas angústias e inquietações. A relação com a transcendência e, muito especialmente, a forma de encarar o desconhecido supremo do “e depois da morte…?!”. É o tempo do “eu creio”. Pode ser individual e pode ser universal.

2) O tempo da comunidade. A agregação faz a força e as comunidades necessitam de compartilhar traços identitários. A religião serve de denominador comum para um grupo. É o tempo do “nós somos”. Muitas vezes o reflexo de proteção faz a comunidade fechar-se e excluir “os outros”. Já não é universal.

3) O tempo do regulamento. A organização social necessita de regras. Regras de partilha, de respeito mútuo e até mesmo sanitárias. A liderança da sociedade coloca uma capa religiosa no manual de procedimentos. Se és dos nossos, és desta religião; se és desta religião deves seguir este código. É a fase do “deves seguir…”, já longe do tempo espiritual original.

4) O tempo da manipulação. Os deveres evoluem do utilitário básico para o serviço do poder. A religião é estandarte atrás do qual se mobilizam e galvanizam vontades. Muito poucas, para não dizer nenhumas, das guerras chamadas religiosas são mesmo motivadas por disputas de credos. O líder apenas evoca e manipula o credo do grupo para atingir os seus objectivos. É o “vamos guerrear em nome de… “.

Ao discutir o papel das religiões no mundo, os seus prós e contras, se se trata de ópio ou de incenso, é necessário identificar bem o tempo a que correspondem as acções a que assistimos. No tempo um, tudo está bem; no tempo quatro, tudo está mal.

Nota: Foto no templo budista Guanyin en Xiamen, China

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