06 fevereiro 2015

Sair do silêncio…


A porta correu, arrastando no chão a fita de isolamento acústico e fechando todo o som do cubículo. Há uma pequena câmara por onde me seguem, que ignoro. A atenção está toda no microfone “enorme” à minha frente e no texto impresso em letras grandes, ao lado, um pouco abaixo. Um dos olhos irá segui-lo, o outro tentará manter constante a distância ao “coiso”. Do exterior chegam-me umas instruções e recomendações finais pelos auscultadores e também isso fecha. É agora. Isolamento absoluto, sem nenhuma interacção com o exterior.

A primeira vez é apenas para os ajustes. Arranco e vou sem parar até ao fim das 300 palavras. Não correu mal. Acho que não falhei pronúncia nem quebrei ritmo. Agora é a sério, dizem-me. De novo o silêncio total e o “coiso” ali, estático, à frente, esperando. O próximo passo é eu abrir a boca e tudo o que dela sair, bom ou mau, ficará gravado! Não começou mal, mas não consegui respirar com a naturalidade toda e o final acusa quebra e cansaço na voz. Vamos repetir o troço final, mas não sai com o mesmo timbre e ritmo da passagem anterior. Nem a repetição da repetição. A “facilidade” técnica de repetir parcialmente parece mais um espartilho do que uma vantagem. Não. Vamos do princípio outra vez, corrido sai melhor.

Saiu melhor, mas pedem-me outra expressão na parte inicial. Bolas… a capacidade de concentração é limitada – manter o ritmo e marcar com cuidado a pronúncia de uma língua que não é minha já me ocupa bastante, sobra pouco para realçar expressões.

Desta vez a repetição apenas do inicial integrou-se bem. A reflexão final é que, sem dúvida, ao vivo, ter que sair bem à primeira, uma vez e apenas uma única vez, deve ser realmente outra coisa, mais desafiante!

2 comentários:

Maria Joao Morgado disse...

Mas afinal que texto era? E de quem? E a gravacao era para?
Bem se vê que este comentario é de uma mulher! Tanta pergunta! Ahahah

Carlos Sampaio disse...

Pois... nem sei se hei-de responder já ou esperar um pouco, para ter a certeza de que já estão as perguntas todas... !
Tratava-se da versão francesa de um texto para um filme institucional de uma colectividade. O texto original não era meu, apenas a tradução. Como o filme ainda não saiu é proibido dar mais detalhes. :)