02 fevereiro 2015

Uber antes do Uber

Quando nos anos 90 me deslocava com frequência à Argentina, explicaram-me existirem duas alternativas para as deslocações urbanas “tipo táxi”. Os táxis formais e os “remis”. A origem da palavra viria do francês “remettre” – entrega. Eram carros particulares que se organizavam, com central de chamadas e tudo, para transportar pessoas, mais barato do que os táxis oficiais. A maior parte dos veículos eram sujos, velhos e decrépitos, mas o sistema funcionava bem. Num país onde a pontualidade não era norma, eles estavam sempre no sítio certo e à hora pedida.

Esta coisa do “Uber” parece-me ser, no fundo, uma versão tecnologicamente evoluída dos “remis” argentinos e, se vão transportar pessoas e cobrar, alguma regulamentação deverão ter. Como pode um conceito que não é novo, apenas troca um telefonista por uma aplicação de telemóvel, ser uma coisa tão extraordinária e transformar-se num fenómeno financeiro? O valor do “Uber” não vem do simples resultado do serviço que presta. Ele é/vai ser “apenas” mais uma brutal base de dados de utilizadores e dos seus hábitos permitindo “oferecer-lhes” outras coisas um dia, para lá do simples transporte. Apenas mais um par de olhos para o “Big brother” que nos segue e nos vende…

No momento do sequestro no café em Sidney, em Dezembro passado, os preços Uber da cidade subiram para o quádruplo. Com a procura a disparar, o aumento de preços serviria para motivar mais veículos a saírem à rua. Uma prova de que a lei da oferta e procura tem limites e alguma regulamentação (e decência) se impõem quando está em causa uma necessidade e não um entretenimento.

Sem comentários: