08 abril 2013

Mal amados

Dentro da minha tradição de não referir efemérides exceptuado as excepções, descobri recentemente que este ano se cumprem 100 anos sobre o nascimento do grande Albert Camus, de quem já falei aqui várias vezes… E no artigo que li referiam o seu enquadramento com a sua terra natal, Argélia, e da forma como ele é pouco reconhecido pelos valores oficiais dos seus compatriotas. Esclarecido, ele tentou dar o seu contributo ao processo de independência mas afastou-se impotente face a um rumo que estava a ser seguido, segundo ele errado. Criticou o colonialismo e denunciou a pobreza em que vivia uma grande parte da população, mas a solução para ele não passaria por uma autonomia com exclusão dos europeus. Achava que se podia viver e partilhar o país sem o maniqueísmo em vigor e não lho perdoaram.

E daqui lembrei-me de uma outra grande figura humana, para a qual tanto quanto sei não está nenhuma efeméride em curso, e que também foi mal amado pelos seus: Jacques Brel. Na pequena Bélgica, o grande Brel achava que se podia ser flamengo de alma e coração exprimindo-se em língua francesa. Os pequenos flamenguitos não o entenderam e também não lhe perdoaram tamanha heresia.

Com um mundo de distância entre os dois, ou talvez não, dois mal-amados e pelas mesmas razões profundas: por não venderam a alma, por não alinharem em coros superficiais, por não aligeirarem o valor das convicções, por terem e manterem um espírito livre. Bem hajam!

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