29 abril 2011

Bolludos e Pelotudos



Foi-me recomendado por um colega, antigo combatente comum daquelas latitudes, o filme argentino “O segredo dos teus olhos”. E vi, com prazer, um daqueles filmes que não é linear de narrativa única e previsível, como parece ser a norma recente. Tão pouco necessita de guia e tradução para se entender o que o realizador quer realmente contar. Uma história simples mas com níveis e linhas narrativas suficientes para ter a profundidade e a riqueza necessárias. E, mais do que tudo, um filme sobre pessoas e a suas “normais/excessivas” paixões.

Tem um encanto nostálgico especial para quem viveu (e aturou) algo por ali, com aquelas saídas “bolluzadas” e afins. Sem pegar na origem da palavra e na sua tradução literal (descubra quem quiser), “bolludo” é muito amplo. Sendo originalmente sinónimo de estúpido e imbecil, pode em ambiente de familiaridade até servir de saudação: nós também podemos chamar “urso” e “camelo” a um amigo... Em caso de desgaste excessivo passa-se ao mais rotundo “pelotudo!”, mas pronunciado com todas as sílabas bem marcadas!

Na ficha do filme encontrei o nome da actriz principal, Soledad Villamil (pronunciar "Vijamil"), e descobri que também canta. Não é uma Adriana Varela, pelo menos por enquanto, mas canta de uma forma … “bolluda” – ou será que não se pode usar isto no feminino? Não sei, mas pelo menos não fica bem ser usado por quem não sabe, donde que retiro o que disse.

A Argentina é um país complexo e complexado. Tanto se sente um certo desespero ao lidar com gente frustrada por ter tentado atravessar culturalmente o Atlântico e o Equador, sem sucesso (ao contrário do Brasil que vive muito melhor a sua pele); como se admira aquela tipicidade “bolluda” (e cá estou eu de novo a reincidir na falta).

E um par dançando/representando um tango numa manhã de fim-de-semana, à sombra das árvores de uma praça de S. Telmo, não tem nem pode ter correspondência ou equivalência em nenhum outro lugar.

25 abril 2011

Sobrevivendo os Pardais

Alturas houve em que eu não tinha paciência para ouvir falar nos “Descobrimentos”. Na história oficial que tínhamos que aprender, eles eram o momento alto e, bem vistas as coisas, o único momento alto. E, 500 anos depois, apetecia dizer: sim, está bem, foi extraordinário, mas fechemos a página e deixemos de viver uma identidade plantada nas cinzas dos Gamas e dos Cabrais!. Posteriormente achei que se a nossa dimensão não se pode esgotar e encerrar nessa empresa, podemos e devemos, no entanto, olhar para a frente sem a menosprezar nem ignorar.

Curiosamente, enquanto a Grécia, que até tem alguns tristes pontos em comum recentes connosco, continua após vinte e cinco séculos a capitalizar os seus Sócrates e Aristóteles, nós não conseguimos que o Mundo reconheça a dimensão devida aos Descobrimentos, a que pode nem ser estranho o facto de nós próprios termos dificuldade em a gerir friamente. Há pouco tempo li “O Império dos Pardais” de João Paulo Oliveira, um excelente romance histórico passado no tempo de D. Manuel I. Colocar aquele enredo riquíssimo ao lado do que serve de base à famosa série “Os Tudor” sobre Henrique VIII não tem comparação possível. E enquanto meio mundo terá visto interessadíssimo a evolução dos problemas hormonais desse soberano e demais tricas cortesãs, poucos em Portugal conhecerão a real dimensão dessa época manuelina.

Hoje comemoramos o 25 de Abril que começa a ficar para a nossa democracia, como os Descobrimentos estão para a história de Portugal. Temos que passar à 3ª fase: depois da celebração eufórica e depois do desencanto com o resultado objectivo; deixemo-lo na história como um momento belíssimo e olhemos para a frente de forma construtiva e descomplexada.

O título do livro “Império dos Pardais” evocava o facto de o pequeno pardal Portugal conseguir manter um império mundial só e apenas enquanto os pássaros grandes se entretinham nas duas disputas e querelas. Quando estes parassem e olhassem para o mundo, nós rapidamente seríamos retirados de cena. Na prática foi isso que aconteceu mas não lhe atribuo uma causa de fatalidade incontornável tão clara. De qualquer forma, se temos que ser sempre pardais, que o sejamos, mas sapientes e dignos.

21 abril 2011

Nada de novo

Talvez não seja bom sinal entender que não há nada de novo, mas vejamos:

- Tolerância de ponto hoje à tarde. Não sei quantos milhões custa, mas do ponto de vista do princípio é muito dificilmente justificável; na situação actual do país é escandaloso. Ou será que produzimos riqueza suficiente para nos podermos permitir um descansozito extra?

- Vencimentos dos militares. Foi um verdadeiro drama terem recebido a 21 em vez de a 20. No contexto actual das finanças públicas faz soar alarmes, mas por favor… E aquele representante de uma associação qualquer deles a dizer, com um tom levemente ameaçador, que eles têm por missão fazer cumprir a lei, independentemente de quem a desrespeita. Já chegamos onde?!? Será que no próximo dia 20 eles se apresentam no banco de metralhadora em punho para “fazer cumprir a lei”?

- Na Hungria acham mal que as crianças não tenham peso eleitoral. E, então, discutem incluir na constituição o dar a cada mãe dois votos. Duas questões: as crianças aceitam passar assim procuração a um progenitor? E, nesse caso, porquê a mãe e não o pai ou, sei lá, meio voto para cada um? Tanta idiotice junta!

- O Presidente Facebook. Não sei se é por dificuldades de expressão directa ou por querer ser moderno, mas corremos um risco: se o Facebook fechar, o nosso presidente apaga-se. Ou será que já não está apagado? Alguém se lembra de ele dizer (postar?) qualquer coisa de certeiro, oportuno e que acrescente algo? No melhor dos casos só vejo banalidades.

- Entrevista recente de Medina Carreira sobre o próximo governo. Não interessam os “modelos”, apenas é importante não gastar o que não temos. Programa do governo é irrelevante; o importante é saber quem serão os 3 ou 4 ministros chave e que sejam competentes, que tenham trabalhado na vida e que não tenham roubado! O homem é um lírico!!

- O Real Madrid volta aos títulos com dois portugueses chave. Deve gerar alguns sentimentos contraditórios numa certa alma castelhana.

- Ainda no futebol. Sou eu, contribuinte, quem paga aquela polícia toda por causa de uns excitáveis, excitados por uns dirigentes broncos e irresponsáveis? Não estou de acordo!

- O PS ultrapassa o PSD numa sondagem?!? Sugestão: convidem agora o Coelho da Madeira para ser deputado, com a condição de lhe dar a presidência de qualquer coisa, para ver se melhora…

- Ajuda externa. Essa já a temos há muito tempo com maior ou menor custo. O que vamos ter agora é “governo externo”, o que, face ao histórico, pode nem ser mau de todo. O PC e o BE são contra. Toda a gente tem direito a ter a sua opinião, mas as opiniões não são reconhecidas como assinaturas em cheque.

- Aqui junto ao meu local de trabalho, numa zona industrial, uma avenida que até nem envergonhava ninguém está a ser “requalificada” no âmbito do plano do Metro do Porto, que até só a toca numa parte inicial. Vai ficar mais bonita, é certo. Aquele granito que estão a pôr no separador central e no lancil dos passeios é realmente bonito, mas… havia necessidade?

- A Finlândia e a solidariedade europeia. Antes de mais, o mecanismo em curso não é uma dádiva; é um empréstimo. Em condições especiais, é certo, mas a reembolsar. Quanto à solidariedade, num espaço único tem que haver coesão. Lisboa não pode ficar com toda a riqueza gerada em Lisboa e aldeia lá do fundo da serra que se amanhe com a sua. Mas, ao fim de 25 anos de “coesão” e tantos “fundos perdidos” é justificável que ainda precisemos de tanta “ajuda”? Deverá existir uma solidariedade, leia-se transferência de fundos, permanente entre os “ricos” e os “pobres”? Os “ricos” são ricos porque trabalham mais e os “pobres” são pobres por serem preguiçosos e aldrabões?

E, por hoje, chega!

PS: A CP está em greve…!

03 abril 2011

Fantástico

“Devo referir que sempre estive convencido de que o meu percurso académico com oito anos de frequência universitária e elevado número de cadeiras concluídas, em mais do que um plano de estudos curriculares, correspondesse a um curso superior à luz das equivalências automáticas do Processo de Bolonha”.

Para quem não sabe, uma licenciatura de “Bolonha” são 3 anos e este génio “estava convencido” de que estaria licenciado por ter andado por lá 8 anos. Não se pode culpá-lo: após tanto tempo é provável que tenha perdido um pouco a conta ao “elevado número de cadeiras concluídas”.

Este senhor chama-se Marcos Batista, era administrador dos CTT’s e, ao assumir o cargo, assumiu ser licenciado, ao que parece de boa fé porque estava realmente convencido disso.
Talvez o mais relevante no seu CV é ter sido sócio do Secretário de Estado que o nomeou para o cargo, onde estava desde 2005. Uma pesquisa do seu CV deu este resultado fantástico:

Administrador e CCO dos CTT - Correios de Portugal, S.A.;
Presidente do Conselho de Administração da EAD – Empresa de Arquivo de Documentação, S.A,.
Administrador da Payshop Portugal, S.A. e da Mailtec - Holding,SGPS, S.A.;
Vogal do Conselho de Gerência da PostContacto - Correio Publicitário,Lda.
Vogal do Conselho de Administração da Payshop Moçambique, S.A.R.L
De 1996 a 2005 foi Director de Marketing e Comunicação do Grupo Águas de Portugal, SGPS, S.A.;
Administrador da Águas de Moçambique entre 2001 e 2002;
Director Geral da Laveiro, Lda., e
Director Financeiro e de Marketing da Área Dinâmica, Lda.,de 1993 a 1996; Marketing Manager - Avon Cosméticos S.A., entre 1991 e 1993;
Gestor de Projectos da Transbel, S.A. e
Professor na Escola Secundária de S. João do Estoril, entre 1990 e 1991; Gabinete de Contabilidade Gloria Motta Pereira, de 1989 a 1990.

Falta aqui a referência da “empresa” em que Batista Bastos foi sócio de Paulo Campos, o tal Secretário de Estado que o nomeou: a empresa chamava-se “Puro Prazer” e foi constituída para “para organizar a Semana Académica de Lisboa no ano de 1995”, sendo extinta um ano depois.