04 janeiro 2010

O Homem não é relativo

No virar do ano com os indispensáveis balanços e previsões, dei conta de que hoje, 4 de Janeiro de 2010, se completam 50 anos da morte de Albert Camus, para mim um dos espíritos mais belos e brilhantes do século XX. De uma clarividência extraordinária e com uma experiência de vida riquíssima, acabou como um proscrito do meio existencialista francês cuja miopia o considerava demasiado humanista. O tempo, supremo filtro, vem provando que Camus é intemporal enquanto o “papa” Sartre fica como uma referência datada, sendo necessárias realmente muitas dioptrias para conseguir defender Staline e Mao sem reconhecer o que eles realmente representavam. Para Camus o mundo não se dividia em “gregos contra troianos” onde é necessário optar por um lado até às últimas consequências; para ele o mundo era composto por homens. Foi resistente à ocupação Nazi, denunciou o Gulag e criticou ambos os lados do processo de independência da Argélia. Assim é difícil manter "amigos".

Ao iniciar o 2010 e nos 50 anos do seu desaparecimento, recomendo revisitar o grande Camus, e deixo aqui um aperitivo, repetido já de outra entrada anterior:

“Vivemos no terror porque a persuasão deixou de ser possível, porque o homem se entregou inteiramente à história e já não se pode voltar para a parte de si mesmo, tão verdadeira quanto a parte histórica, e reencontrar face a ele a beleza do mundo e dos rostos, porque vivemos no mundo da abstracção, o dos escritórios e das máquinas, das ideias absolutas e do messianismo sem nuances. Asfixiamos entre aqueles que acreditam terem absolutamente razão, seja na sua máquina, seja nas suas ideais. E para todos os que não podem viver que não seja no diálogo e na amizade dos homens, este silêncio é o fim do mundo.”
Da colectânea de textos “Reflexões sobre o Terrorismo”

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