(Começou em )
Continua para
- Eu, eu imagino demais. Em qualquer momento, entre o acordar e o adormecer, vejo-me num guião de algo que me vai acontecer: desgraçado, heróico, amoroso. Qualquer coisa em que estou no centro do mundo. Não planeio o que vou fazer ou o que necessito, apenas penso no que gostaria que me acontecesse.
E assim fechou aquele dia da macedónia das compulsões, todos visivelmente preocupados e reflectindo se realmente queriam mesmo trocar a sua mania de estimação bem conhecida, por uma mistura média daquelas maluqueiras todas.
Ele não pode deixar de a seguir com o olhar, receando concorrenciar em atitude o compulso da atracção. Não pensou nisso. Fiel à sua mania, lá imaginava que ela teria um desvio, um percalço, que evitaria que ela entrasse banalmente no automóvel e partisse. Qualquer coisa de que ele a salvaria, que ela o admiraria.... e, e, e, e...
Ao voltar para casa, imaginava como seria bom que a Joana lá estivesse esperando-o em surpresa sentada jovialmente na soleira da porta. Era altamente improvável; a Joana nem sabia onde ele vivia nem ele a tinha visto alguma vez sentada numa soleira. Era um cometa que uns anos antes atravessara o seu mundo, sem parar, sem lhe tocar e, depois disso, cada vez que pensava em brilhar, o brilho tinha o nome dela. Se ele soubesse desenhar como a mulher do círculo, desenharia a Joana que imaginava e talvez ao contemplar o desenho, por um momento, apenas contemplasse e parasse de imaginar.
Ela já se tinha habituado a utilizar toalhas de papel na mesa. Não porque lhe desagradasse riscar no pano; apenas porque rapidamente se saturavam e era caro substitui-las. O jantar era o momento alto do traço. Tinha-se instalado depois da ruptura com o João. Uma espécie de sudedâneo de diálogo. Sorriu ao recordar-se do círculo e do homem da imaginação: se ela fosse como ele estaria a imaginar agora que o ausente lhe tocava à porta. Suspendeu o traço por um momento, o tempo de imaginar e de recomeçar com mais vigor e uma ligeira humidade nos olhos.
De qualquer forma iria continuar no círculo. Quanto mais não fosse por curiosidade antropológica. Não que tivesse falta de imaginação para os traços, mas poderia ser sempre útil. Naquele momento entendeu que riscava mais por automatismo do que por inspiração e não gostou da constatação.
Se ela conseguisse imaginar o João pararia. Pararia de riscar e ficaria um momento reflectindo, olhando para dentro de si, em vez de estar constantemente entornando-se para fora.
E assim fechou aquele dia da macedónia das compulsões, todos visivelmente preocupados e reflectindo se realmente queriam mesmo trocar a sua mania de estimação bem conhecida, por uma mistura média daquelas maluqueiras todas.
Ele não pode deixar de a seguir com o olhar, receando concorrenciar em atitude o compulso da atracção. Não pensou nisso. Fiel à sua mania, lá imaginava que ela teria um desvio, um percalço, que evitaria que ela entrasse banalmente no automóvel e partisse. Qualquer coisa de que ele a salvaria, que ela o admiraria.... e, e, e, e...
Ao voltar para casa, imaginava como seria bom que a Joana lá estivesse esperando-o em surpresa sentada jovialmente na soleira da porta. Era altamente improvável; a Joana nem sabia onde ele vivia nem ele a tinha visto alguma vez sentada numa soleira. Era um cometa que uns anos antes atravessara o seu mundo, sem parar, sem lhe tocar e, depois disso, cada vez que pensava em brilhar, o brilho tinha o nome dela. Se ele soubesse desenhar como a mulher do círculo, desenharia a Joana que imaginava e talvez ao contemplar o desenho, por um momento, apenas contemplasse e parasse de imaginar.
Ela já se tinha habituado a utilizar toalhas de papel na mesa. Não porque lhe desagradasse riscar no pano; apenas porque rapidamente se saturavam e era caro substitui-las. O jantar era o momento alto do traço. Tinha-se instalado depois da ruptura com o João. Uma espécie de sudedâneo de diálogo. Sorriu ao recordar-se do círculo e do homem da imaginação: se ela fosse como ele estaria a imaginar agora que o ausente lhe tocava à porta. Suspendeu o traço por um momento, o tempo de imaginar e de recomeçar com mais vigor e uma ligeira humidade nos olhos.
De qualquer forma iria continuar no círculo. Quanto mais não fosse por curiosidade antropológica. Não que tivesse falta de imaginação para os traços, mas poderia ser sempre útil. Naquele momento entendeu que riscava mais por automatismo do que por inspiração e não gostou da constatação.
Se ela conseguisse imaginar o João pararia. Pararia de riscar e ficaria um momento reflectindo, olhando para dentro de si, em vez de estar constantemente entornando-se para fora.
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