23 agosto 2007

O trambolhão final!



Conhecem aqueles adolescentes “espertinhos” que transformam os TPC (trabalho para casa) em TPG (trabalho para o Google) e que copiam longas citações duma página qualquer da internet, pensando que estão a apresentar um grande trabalho e que ninguém dará conta?

Agora temos um candidato a líder partidário, por inerência candidato a primeiro ministro, que faz o mesmo e não se preocupa em assinar textos da wikipédia sobre o assuntos da actualidade, como se fossem seus. Pode ser só um problema da equipa, mas, para mim, é o fim do homem.

Foto do site da RTP

19 agosto 2007

Portugal, Torga



E pronto! De repente, Torga salta para as primeiras páginas. E, como não podia deixar de ser, na sufocante dimensão paroquial nacional do “disse que disse”, “esteve que não esteve”, o prato forte é a polémica e, em particular, a ausência do governo nas cerimónias recentemente realizadas.

Por Torga, deixemos de lado as cerimónias oficiais e a tinta fútil. Se Portugal tem uma identidade bem definida, e eu acredito que tem, ninguém como Torga a encarna. Torga é a solidez do granito e a resistência da erva da montanha. Torga troca tudo por um verso e por nada troca a clareza e a frontalidade.

A homenagem maior a Torga é simplesmente lê-lo, tal como eram simples as suas singelas edições de autor, desprovidas de artifícios e de tudo o mais que não fossem as suas palavras. E para sugestão, para começar, um livro de referência com tanto de lúcido quanto de apaixonado sobre “esta nesga de terra, debruada de mar”: “Portugal”.

17 agosto 2007

Atracção que foi fatal

No texto Atração fatal? que saíu publicado no Jornal Público de 19.05.2007, referia-me ao perigo potencial que representam as atracçõs de feira, por falta de inspecção e fiscalização técnica. Dizia eu que "perguntei no local se havia alguma inspecção técnica e, segundo entendi, haveria apenas inspecção económica, ou seja, garantir que a licença foi paga." e que "Um dia haverá um acidente e será apenas um azar imprevisível, que nunca ninguém imaginou que pudesse ocorrer..."

Aconteceu agora um "azar" em Oliveira de Azemeis e, se calhar, até se vai concluir que ninguém teve culpa. A menina é que não devia ter sido "atraída pela atracção"!

16 agosto 2007

Ainda e sempre, Hess

“À nossa volta irrompem discursos, prédicas e discursos sobre a ciência, a cultura, a beleza e a individualidade. Mas parecemos ter esquecido por completo que estas coisas valiosas apenas podem florescer no silêncio e na vigília nocturnas.”


Conto: “Sobre os tempos antigos”, Hermann Hess 1908

14 agosto 2007

Eu, pecador, me confesso



Depois de tantas considerações anteriores sobre grandes músicas, autores “sagrados” e por aí fora, não é que comprei um disco da Laura Pausini e gosto mesmo de ouvir algumas daquelas musiquinhas?

E, ainda por cima, sou reincidente. Há uns largos anos, na Bélgica, nas manhãs quase sistemáticas de nevoeiro, nas filas da auto-estrada, no meio de gente com aparência também nublosa, era sempre com prazer que ouvia na rádio o grande sucesso da altura, o “Strani amore”! Era, e é, só uma musiquinha, mas parecia quase uma espécie de raio de sol quente e alegre no meio daquele cinzento frio generalizado.

A rapariga tem uma voz bonita e expressiva (os restantes dotes, para o caso de CD, não contam!... :) ) e, depois, há língua italiana que, só por ela, já é música e que vale metade, ou mais, da beleza apercebida. É um regalo ouvir aquele dilúvio de vogais abertas , como os “és” os “is”, mais a profusão das longas palavras esdrúxulas, como as deliciosas terminadas em “ono”...

E, pronto, está a confissão apresentada!

PS: Foto googleada sem trazer “certificado de origem”

12 agosto 2007

Palavras para quê?



“Palavras para quê? É um artista português e só usa pasta medicinal Couto! “ Dizia um anúncio, daqueles antiguinhos e que ainda ecoam na memória.

Agora foi o treinador do FC Porto que veio dizer que, para eles, ganhar é como lavar os dentes. Não precisou a marca da pasta. Acho que os profissionais da medicina dentária deveriam apresentar um protesto. É que, tendo o Porto perdido a Supertaça, às tantas, ainda vai acontecer que o pessoal fica todo sem lavar os dentes até ganhar o próximo título! Trata-se de um terrível atentado à saúde dentária dos Portugueses. Puramente em termos de mercado, até nem será mau porque mais cáries, mais factura, perdão mais caixa, porque recibo oficial, nem sempre.

Pior mesmo só as famosas derrotas sistemáticas do Benfica, em que ainda está para calcular quanto terá custado para o país a depressão contínua de 3 milhões de portugueses.

E, só para não se dizer que sou faccioso, quanto ao Sporting, falamos em dermatologistas para tratar a pele das mãos?

10 agosto 2007

Quem não se sente

Um dia, esperamos, haveremos de conhecer toda a história da menina inglesa desaparecida no Algarve há 3 meses. Para lá do conhecimento do que se passou nessa noite, espero que também se venha a entender porquê este caso mereceu a atenção mediática que recebeu.

Talvez uma das razões para essa atenção resida na postura dos pais, estóica e exemplar. Agora, acho que há limites... Está bem que os ingleses são tudo menos mediterrânicos e sabem aguentar, aparentemente impassíveis, enormes dificuldades. Mas, também há limites.
Numa entrevista, serem confrontados com o facto de serem suspeitos do desaparecimento da filha e:
  • trocarem olhares e responderam de uma forma politicamente correcta,
  • seguramente ensaiada,
  • sem perderem a fleuma,
  • sem um mínimo gesto de indignação,
  • sem sequer uma expressão facial de repulsa,
sinceramente, já não será modelar em excesso?

09 agosto 2007

Inconsistência...

... incoerência, incongruência e outras coisas mais começadas pelo “in” de negação, passaram-me pela cabeça um destes dias no regresso a casa.

Calmamente na auto-estrada cheia de stressados que, ao fim do dia, correm para dar um mergulho na praia nas últimas luzes do dia, sou empurrado por um Golf a pedir para eu lhe sair da frente. Olhei pelo espelho e notei algo de diferente na imagem. Poucos segundos depois, ele estava ao meu lado, ultrapassando pela direita, conduzido por uma acelerada senhora, que adivinharia jovem, estirada para trás de braços tensos e com movimentos rápidos, de olhar fixo no trânsito, querendo tudo ultrapassar a todo o custo.

O “in” vem da sua vestimenta. Pois é! Com um véu lhe tapava a cabeça e a testa até às sobrancelhas mais aquela espécie de lenço, na cara só tinha visível a faixa dos olhos. E aí estava ela, de pé pesado, em estilo ninja, ziguezagueando e ultrapassando tudo e todos, pela direita, pela esquerda e mesmo pela berma. E lá fiquei a remoer nos “in”s todos que aquela visão me evocava. Por trás de um uniforme fechado e restritivo, uma postura dinâmica e indisciplinada..

07 agosto 2007

Concurso dos professores titulares

Saíram os resultados dos concurso dos professores titulares e, logo a seguir, é a tradicional enxurrada de críticas e de “bota-abaixo”, em tons mais ou menos oficiais, mais ou menos objectivos. Sem conhecer o detalhe do caso concreto, este processo parece-me representativo de uma forma irresponsável de estar em sociedade.

Em primeiro lugar, os critérios para uma selecção desta natureza, num universo desta dimensão, têm que ser rigorosamente objectivos. E, quando se trata de pessoas, a objectividade exclusiva conduz sempre, sempre, a alguma injustiça. É inevitável. Falando, a título de exemplo e para ser simples, do intervalo temporal de avaliação: se for curto prejudicará aqueles que tiveram um desempenho regular a médio prazo, ultrapassados pelos que se aplicaram mais na ponta final. Se for longo, beneficiará aqueles que investiram no início da carreira e que depois pouco mais fizeram, contra os mais jovens que terão uma boa meia dúzia de anos de um enorme trabalho, mas sem história anterior.

O trabalho preparatório num assunto destes inclui discutir os vários cenários e avaliar as respectivas consequências, na busca do compromisso mais equilibrado possível, nunca perdendo de vista que o resultado jamais será perfeito e isento de “crítica”. Obviamente que isto só é possível com abertura, diálogo e espírito construtivo, o que não é tradição nas relações entre governo e sindicatos da função pública. Aliás, também não ajuda nada que os jurássicos sindicatos actuais apresentem um preocupante défice de representatividade.

A irresponsabilidade social que referi acima, manifesta-se em dois aspectos. O primeiro é presumir que não pode haver injustiças. E isso é impossível. O segundo é, em vez de investir na discussão prévia que possa contribuir para optimizar a configuração retida, é esperar pelos resultados e depois gritar “Aqui d’El Rei, que há situações injustas”.. É sempre mais seguro dizer de sua justiça no final do jogo.

03 agosto 2007

O fim da Portugália ?


Recebi uma carta da TAP informando-me que, na sequência da sua compra da Portugália, o programa de fidelidade desta iria ser anulado. O meu cartão seria substituído por um dos seus “Victória” e fiquei a pensar se a “Portugália” (PGA) também iria acabar. Aliás, ainda não entendi porque a TAP mudou o nome do seu programa de “Navigator”, que “dizia algo”, para este “Victória” que só me faz lembrar rebuçados e cromos.

Durante estes anos, a PGA contribui mais para a imagem de Portugal do que muitas campanhas de promoção oficiais. Não conheço nenhum visitante de Portugal, viajando na Portugália, que não a elogiasse. A PGA conjugou simpatia e eficácia de forma exemplar. São inúmeras as “histórias” da PGA exceder as expectativas e realço uma em que, chegado atrasado a Bilbao, voando noutra companhia e ainda sem registo feito, me levaram directamente pela pista de um avião para o outro e ainda me conseguiram transferir a bagagem!

Mesmo nesta fase final em que o futuro da empresa se questionava e discutia diariamente na praça pública e os seus Fokkers pediam reforma, nunca deixaram de demonstrar um profissionalismo exemplar.

As empresas existem para ganhar dinheiro, independentemente de serem ou não simpáticas. Evidentemente que, sendo a TAP dona da PGA, irá fazer o que melhor entender para recuperar o investimento feito e também não pretendo dar conselhos de estratégia empresarial. Agora, gostaria muito que a “Portugália” continuasse a existir e, de preferência, alargada a toda a TAP.

01 agosto 2007

Outras formas de aniquilar

Uma das coisas que mais choca, como atentado à dignidade humana, é o internamento compulsivo num hospital psiquiátrico. Declarar que o indivíduo não tem direito a ter uma vontade respeitada e, pela força imobilizá-lo, ou pela droga silenciá-lo, é de uma violência inaudita. O “Voando sobre um ninho de cucos”, em que se juntam os geniais S. Kubrick e J. Nicholson, mostra isso de forma magistral que não se apaga da memória.

Tremi, portanto, ao ver uma notícia hoje no Le Monde.

Larissa Arap uma militante russa pelos direitos do homem tinha sido internada uma vez em 2004 numa clínica psiquiátrica, fragilizada por agressões físicas e diversas ameaças. Foi libertada pela intervenção de um juiz. Escreveu em seguida um artigo muito crítico sobre os tratamentos psiquiátricos, questionando nomeadamente os electro-choques.

Quando em 6 de Julho passado visitou um médico para obter um certificado com vista à renovação da sua carta de condução, este, após identificá-la como a autora do artigo maldito, chamou a polícia e ela foi internada compulsivamente num hospital psiquiátrico. Desta vez, um juiz afirmou que ela “constituía um perigo para ela própria e para os outros”.

À filha, que a visitou no hospital, anunciaram que a sua mãe iria ser tratada durante um tempo muito longo e que, provavelmente, não sairia mesmo nunca mais dali!

De arrepiar...
PS: Perdão, perdão, perdão!!! O "Voando sobre um ninho de cucos" é do Milos Forman e não de Kubrick!