11 setembro 2007

Artilharia pesada

O assunto da Praia da Luz é daqueles de que todos falam e em que facilmente se fala demais. Recentemente manifestei a minha surpresa pela reacção excessivamente fria e calculista do casal, quando confrontado com a hipótese de serem suspeitos.

Agora acrescento duas coisas:

Quando se vê alguém preparar uma defesa recorrendo aos melhores e mais caros advogados, cheira sempre a táctica de poderoso comprometido que recorre à sua grande capacidade de mobilização de meios para procurar inverter o rumo dos acontecimentos. Ingenuamente, talvez, gosto de acreditar que a verdade se consegue impor sem ser necessária grande artilharia.

Que pensarão os que contribuíram com fundos para a campanha, quando virem que parte desse dinheiro é usado para pagar dois grandes advogados, um deles especialista em extradições, que tem mesmo a “medalha” de ter conseguido defender e evitar a extradição de Pinochet para Espanha há uns anos. Gostarão? Bom... é que se não é esse dinheiro que o paga, ainda será mais nebuloso e confuso.

Segundo ponto: se fosse um casal português em circunstâncias idênticas em Inglaterra, poderia alegremente regressar assim ao seu país natal e aí se “barricar”? Penso que não. Só não é claro para mim se esta diferença é crédito ou descrédito para Portugal.

5 comentários:

bettips disse...

Como diria MM em baixo, "as dificuldades da diferença". Mesmo nos ditos "países civilizados".
Há um livro especial para ler, pela tal diferença: "A Estrela de Joana", de Paulo Pereira Cristóvão, um dos 3 agentes da PJ que investigou a nossa menina de 8 anos, a tal que já trabalhava, tomava conta dos irmãos etc... Abrç

Maria Manuel disse...

Joana e Maddie nunca aparecidas... ainda não aparecidas...!
Só elas, por elas, se deve orientar o nosso interesse...
O mais é "diversão"!

APC disse...

Não vejo por que não poderia dar-se o caso simétrico, desde que a lei o permitisse. E não sei se concordo que na posse da verdade a "artilharia" (como lhe chamas) se dispense.
Vamos recuar um pouco ao - ainda actual - caso Casa Pia. Vamos focar-nos no CC. Culpado ou inocente? Não sabemos. Pela tua lógica, seria culpado, porque se fosse inocente já a verdade teria vindo ao de cima sem necessidade de qualquer apoio especial em sua defesa.
Vou dizer-te o seguinte: se acaso fosse a minha filha que tivesse desaparecido, eu fosse inocente e começasse a sentir que me incriminavam, olha que eu não sei se não contratava um bom advogado.
E penso que a questão passa muito por aí: pelo que não se sabe e se deveria assumir que não se sabe.
Já agora, tu sabes? :-)

Carlos Sampaio disse...

Bettips

Há um mundo de diferença entre uma criança em Portugal e uma criança em Inglaterra que, um destes dias, desenvolverei aqui.

MM

Diversão cara e assimétrica e, por isso injusta, há muitas mais Maddies e Joanas.

APC
As leis existem e também existe a sua leitura e critérios de aplicação e, mesmo para textos iguais, quase que garanto que no caso simétrico teriam leituras distintas.

Pela minha lógica o CC sendo inocente não necessitaria de advogados caros. Os advogados caros normalmente são usados para explorar os buracos do processo e as más definições da legislação para proteger os seus clientes. Ou seja, não estão lá para fazer avançar a averiguação da verdade mas sim para fazer encravar e derrapar o processo.

Se eu tivesse uma filha que desaparecesse nunca telefonaria para a televisão antes de telefonar para a polícia... O que é prioritário? Fazer "barulho mediático" ou encontrar a menina?

Saber, obviamente que não sei, mas "cheira" a história mal contada.

APC disse...

Discordo. Se fores vítima de uma cabala bem montada, podes ter muita dificuldade em conseguir uma defesa suficientemente credível.
Mais: o caso em apreço pertence à esfera do direito internacional. Não me escandaliza nada que o casal tratasse de se informar ao pormenor sobre as probabilidades de vir a ser obrigado a ficar neste país e as alternativas possíveis, por forma a salvaguardar a sua sanidade mental, por um lado, e, por outro, a forçar a investigação focar-se para além deles. Isto, claro, apenas no campo das hipóteses... Que, repito, serão tantas que tornam levianas quaisquer conjecturas.

Podes sim, dizer que te "cheira", que te "dá a sensação", ou "tenho cá um pressentimento!...". Podes, porque o ser humano é um bicho emocional e, para além disso, (±)livre de exprimir o que sente.
Todavia, o mais importante numa investigação (e ainda que quaisquer hipóteses, mais ou menos plausíveis, devam entrar em linha de conta como potenciais pontos de partida) é, precisamente, o rigor; e esse passa por não confundir, de forma alguma, convicções com factos, imaginação com realidade, suspeitas com provas.
E compete-nos a nós - que entendemos isso e a razão disso - tentarmos (ainda que, e sempre, com a falha humana que nos caracteríza) dar o exemplo disso.

Esta, a minha opinião.

Deixo-a com um abraço!