16 novembro 2006

A História no Parlamento

Penso que na teoria não há nenhuma boa razão para a não adesão da Turquia à Comunidade Europeia. Provavelmente a Comunidade ganharia muito com esta extensão, desde que correctamente faseada. Principalmente o povo turco, esse seguramente, beneficiaria muito com este enquadramento comunitário. Poderia servir de exemplo para provar que é possível um país de maioria islâmica conviver com os padrões culturais “europeus” de liberdade e de respeito pelos direitos do homem, esvaziando muita da polémica histérica que toma a árvore pela floresta. Recusar a Turquia por a sua população ser maioritariamente islâmica seria reconhecer uma identificação religião/padrão social que só interessa aos extremistas.

Tudo estaria bem se a Turquia fosse mais pequena. Mas os seus 70 milhões são dificilmente digeríveis. Uma boa parte da população europeia, em especial na França e na Alemanha, já traumatizada pela sua imigração actual mal integrada, nunca aceitará a curto prazo uma entrada efectiva da Turquia. Seria uma prenda eleitoral dada de bandeja aos partidos xenófobos e de extrema direita.

É politicamente incorrecto, ver impossível, dizer “não” à Turquia, mas, na prática, convém que não avance demasiado rápido. O que arranjaram os tortuosos franceses? Acharam importantíssimo e premente redigir uma lei condenando quem “negar” o genocídio arménio cometido pelos turcos no início do século XX. Como essa negação coincide com a posição oficial turca, está de bom de ver quais as consequências. Para lá da discussão filosófica sobre liberdade de expressão e da actual relevância de semelhante iniciativa, ela tem uma efectividade indiscutível. É uma bela forma de colocar areia na engrenagem do processo de adesão turco.

Os Turcos que já foram cabeça de império, e que é coisa que não se apaga facilmente, contra-atacam com o genocídio francês na Argélia. A Argélia que tem uma história não bem cicatrizada de colonização francesa e de processo de independência, exige à França que reconheça esse genocídio e tentativa de destruição da cultural local e que peça desculpa ao povo Argelino.

A mesma França, cujo Parlamento em Fevereiro votou e aprovou uma lei referindo e elogiando o papel positivo da colonização francesa no mundo e em particular no Norte de África, responde candidamente que a história deve ser deixada para os historiadores. Esta Europa está plena de belos exemplos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pertencer à União Europeia significa fazer parte de um dos mais bem sucedidos processos de integração de sociedades e economias das últimas décadas.

Os turcos teriam acesso ao mercado europeu (no qual a economia turca já está bastante inserida), seus fundos de apoio aos países pobres e a uma moeda forte.

A busca turca pela Europa não é um caso de “miopia” de líderes que querem algo impossível, mas uma análise de benefícios e perdas. As elites turcas, consideram que os primeiros superam largamente as segundas.

O pedido de adesão da Turquia não implica de imediato uma definição das coisas, mas já começa a conduzi-la, o que é incómodo para muitos.

Para os europeus, na verdade, seria conveniente deixar esse problema em aberto ainda por algum tempo, à espera de que a futura Europa se definisse.

O melhor seria que os turcos aceitassem o papel de “ponte” entre a União Europeia e o mundo islâmico, mas sem pretender uma adesão plena. Isso não ocorreu e não espanta, daí, a intensa discussão no velho continente.