"Imaginemos um jardim, com centenas de árvores das mais variadas, milhares de flores das mais variadas, centenas de frutos e de ervas das mais variadas. Se se dá o caso de o jardineiro desse jardim não conhecer outra diferenciação botânica que não seja a de “comestível” e “erva daninha”, então não saberá lidar com nove décimos do seu jardim, arrancará as flores mais encantadoras, abaterá as arvores mais nobres ou pelo menos há-de odiá-las e olhá-las de través. Assim age o Lobo da Estepes para com os milhares de flores da sua alma. O que não cabe nas rubricas “Homem” ou “Lobo”, isso nem sequer vê. E a quantidade de coisas que atribui ao “Homem”!? Todas as cobardias, macacadas, idiotices e mesquinhices, desde que não sejam propriamente bestiais, tudo isso faz caber no humano, do mesmo modo que refere ao lupino tudo o que é força e nobreza, unicamente porque ainda não foi capaz de se tornar o seu senhor."
De: "O Lobo das Estepes", Hermann Hesse
Afinal, o Pessoa com aquela das duas vidas estava a ser demasiado redutor… Também, ao ter mais heterónimos do que vidas, já estava a deixar uma pista.
4 comentários:
Será?
Será? Ao certo, ao certo nunca se sabe, nunca se sabe...
Já dizia o outro que no ser ou não ser é que estava a questão!
"O Lobo das Estepes", Hermann Hesse...extraordinário!
Gostei do excerto que escolheu para partilhar aqui e do seu comentário.
A Olivina tem razão... :-)
Mas parece que é caso perdido!
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