21 abril 2006

O choque das maçãs

Em plena crise anunciada, fui comprar maçãs. Crise anunciada porque, até agora, tem existido sempre uma clara relação causa-efeito entre o disparar do preço de petróleo e uma recessão económica posterior. Talvez os mecanismos de controlo actuais estejam mais ajustados e, por isso, uma crise aguda seja menos previsível mas é um facto que a factura está a chegar e irá aumentar.

Como dizia, com o petróleo acima de 70 USD, fui comprar as minhas maçãs, royal gala ou starking, a um supermercado de uma conhecida cadeia aqui na terra. Ora bem, não havia dessas maçãs portuguesas. Em desespero de causa comprei 4 argentinas que viajaram meio mundo para cá chegarem e com o petróleo a estes níveis. Ali para os lados de Armamar há muitas com dificuldade para saírem das árvores.

Ao mesmo tempo, leio que os viticultores de Bordéus, desesperados por não saber o que fazer ao seu vinho em stock, querem queimar 320 mil hectolitros de “Bordeaux – AOC”, 15% da sua produção anual, transformando-os em combustível. A França no total prevê destilar em 2006 4 milhões de hectolitros, o que alguns produtores até acham insuficiente. É certo que estavam muito mal habituados a cobrar demasiado pelas suas “Appellations d’Origine Contrôlées”, mas a situação é, no mínimo, curiosa. Penso que esse combustível não serve para aviões porque senão seria engraçado. Destilar vinho de Bordéus para ser utilizado em aviões que iriam à Argentina buscar maçãs. Este nosso mundo está cheio de oportunidades!

Um pouco menos a brincar, seria interessante averiguar se todos os produtos alimentares que encontramos cá à venda, mais baratos do que os nossos, são mesmo estruturalmente mais baratos somando custos de produção e de logística, ou se vêm para cá a qualquer preço, só para não serem “destilados”. Os lacticínios seriam um bom exemplo para começar.

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