19 novembro 2005

A boa vida sabe melhor

Acho perfeitamente normal que os alunos não gostem das aulas de substituição. Recordo-me muito bem da ansiedade com que esperavamos pelo “segundo toque” para confirmar o “feriado” e de quão bem sabia ter um “furo” inesperado.

Que os professores não gostem parece-me já um pouco mais questionável. Provavelmente saberá melhor ficar sem nada fazer do que trabalhar com os alunos. Mas... será esse o critério determinante? Será que a função do professor é fazer o “mínimo” e a mais não é obrigado? Tema para mui larga discussão, sem dúvida ...

Agora, o que me parece absolutamente inaceitável é os professores questionarem a utilidade desse tempo. Não vale a pena recordar os problemas de insucesso escolar gravíssimos que temos e, como corolário, o facto de uma boa parte dos alunos não chegarem a dominar dois pilares básicos do ensino como a Língua Portuguesa e a Matemática. Como é possível, neste contexto, desperdiçar este tempo adicional???

Exigirá coordenação e comunicação. Envolvendo os vários professores da turma, o professor que falta, quando possível, e os professores do grupo para rever alguma matéria ou esclarecer dúvidas. Se tal não chegar, exigirá imaginação. Em qualquer caso, o que não poderá nunca faltar é a vontade.

Em resumo, a boa vida sabe bem, mas a construção de algo exige esforço, vontade e seriedade. Argumentar que as aulas de substiuição não servem para nada, pura e simplesmente não é sério.

7 comentários:

Anónimo disse...

Lamentavelmente... a abordagem do tema foi demasiado superficial, não deve conhecer a realidade das escolas e o profissionalismo de muitos professores. Não se deveria ter limitado ao que ouve e lê na comunicação social.

Carlos Sampaio disse...

Caro/a anónimo/a

Conheço algo de escolas e de professores para lá do que vem na comunicação social.
Sei que há professores que são grandes profissionais. Não pretendo pôr “tudo no mesmo saco”.

Agora, “fartei-me” de ouvir professores dizer e escrever sobre a inutilidade das aulas de substituição. E esses, ao dizer isso, não estão a ser sérios.

Anónimo disse...

Conhecer algo não é essencial. Sabe, por exemplo, que há muitos bons profissionais que passam uma manhã na escola (8,30 - 13,30), numa miserável sala de professores, juntamente com mais sete colegas que esperam que alguém os chame para substituir? Que, enquanto esperam, não têm,muitas vezes, o material que necessitariam para preparar outras aulas, ou então teriam de levar uma mochila às costas? Que este trabalho não é considerado lectivo? E que finalmente, de tarde, vão dar as suas aulas às suas turmas?
No entanto, este não é o cerne da "revolta" da classe. Graves alterações têm-se verificado nos últimos meses... e em vez de premiarem os profissionais assíduos, penalizam-se todos...
Uma dessas alterações implica que um professor que chegue atrasado 10 minutos a uma aula de 90 minutos (45+45), já pode estar a ser substituído e não pode dar sequer os últimos 45 minutos - ele na escola e a ser substituído! Ridículo! Sabe também que , se um professor tiver um filho com mais de 10 anos doente, essa(s) falta(s) vão também implicar desconto a nível da reforma? Outros exemplos poderiam ser dados...

Anónimo disse...

- Se 8 professores se encontram numa sala da escola em que leccionam, das 8,30 às 13,30 só à espera de serem chamados ... Não são bons profissionais
- Não têm material para trabalhar porque não querem 'carregar' mochilas ? Já experimentou ver o peso das mochilas dos seus alunos, que estão cheias de material, porque os professores não organizam as aulas e dessa forma de todas as vezes têm que levar todo o material ?
- quando um professor se atrasa 10 minutos não há aula. Sempre foi assim. Qual é o problema agora ? É ter um colega a trabalhar com os seus alunos ? Não acha isso positivo ?
- não conheço a lei no que diz respeito às faltas. Mas esse exemplo que dá, não será igual para os funcionários não públicos ?
Há tanto, mas tanto trabalho, que a escola ( concelho directivo, executivo, professores, funcionários e alunos ) podem fazer para o bem do ensino !

Carlos Sampaio disse...

Se o problema é a falta de condições nas escolas para os professores estarem aí disponíveis e poderem aproveitar esse tempo trabalhando, deveria ser endereçado dessa forma e não questionando a utilidade em si das aulas de substituição.

O “problema” surge quando os professores reagem em postura “sindicalista” onde parece que o está em jogo são exclusivamente umas horas ou uns euros a mais ou a menos. E, de sindicalistas, a berrar por “direitos adquiridos” esquecendo completamente o contexto global e o objectivo final... estamos todos fartos.

Ainda, e sem pôr “tudo no mesmo saco”, há professores que faltam muito e já que que o efeito nos alunos não parece ser importante.. talvez o efeito nos colegas seja maior ... (ironia...talvez....)

Anónimo disse...

Anónimo(a) do 4º comentário

Algumas considerações e/ou informações:
1º- dizer que não se é bom profissional, por estar obrigado a permanecer numa sala miserável, nada tem a ver, pois esse tempo podia ser rentabilizado em casa a preparar o seu trabalho;
2º- Quando me referi a mochilas, não eram propriamente as que os alunos carregam, mas a outras bem maiores. Preparar uma aula pode demorar mais tempo do que a aula em si e, dependendo dos níveis e/ou anos de escolaridade, a consulta de vários livros é absolutamente necessária;
3º- Considero que o peso das mochilas dos alunos ultrapassa os seus limites; não tem a ver com a organização das aulas pelos professores, mas com as dimensões dos manuais;
4º É óbvio que nenhum professor que chegue ligeiramente atrasado a uma aula fica satisfeito: por um lado, teve falta e, por outro, está provavelmente a ser substituído por um colega de outra disciplina bastante diferente -perdeu uma aula que gostaria de ter leccionado.


Carlos Sampaio

A ironia é bastante interessante para os faltosos.
Queria também voltar a referir que as aulas de substituição não são o centro das questões. Infelizmente a comunicação social e os sindicatos parecem continuar a "gostar" de falar sobre o tema.
Neste sector, quem trabalha mesmo não tem quaisquer prémios e sofre as consequências dos que pouco fazem.

Carlos Sampaio disse...

Teresa

"Pico" as suas palavras: "Neste sector, quem trabalha mesmo não tem quaisquer prémios e sofre as consequências dos que pouco fazem".

Este é um aspecto fundamental neste e muitos sectores públicos. Enquanto os vossos "porta-vozes" forem os sindicatos defendendo os interesses do grupo em bloco, sem separarem o trigo do joio, não conseguirão ser credíveis para a opinião pública.