27 janeiro 2023

Condenações e omissões


Um destes dias, um excitado queimou um exemplar do Corão em frente da Embaixada turca na Suécia e o assunto tornou-se planetário, gerando protestos na rua árabe e mesmo tomada de posição do secretário-Geral da ONU.

Certo ser condenável, mas tratou-se de um ato individual que não matou nem feriu ninguém e se o SG da ONU tem que se manifestar cada vez que um excitado insulta os princípios ou convicções de um vizinho… não lhe sobrará muito tempo.

Depois, há a curiosidade da fácil mobilização da rua árabe por um ato isolado, quando, ao mesmo tempo, ignora as barbaridades diárias e institucionais que estão a acontecer com os Uigures e a sua religião. Difícil de entender que um debate proposto na ONU sobre a situação desta minoria tenha sido chumbado, contando, entre outros, com os votos contra do Paquistão, onde tão facilmente a rua se inflama, Qatar, Emiratos Árabes, Indonésia e outros países de maioria muçulmana. Difícil ainda de entender a falta de reação popular quando por muito menos nascem incontroladas manifestações e motins violentos.

O quadro com o resultado global da votação, 19 contra, 17 a favor e 11 abstenções, é um monumento à hipocrisia reinante. É alarmante quanto à saúde dos direitos humanos no planeta e à forma como eles são institucionalmente tratados neste fórum da ONU, que se mostra assim assustadoramente atacado por uma mui maligna doença.

- abaixo, versão publicada no Público, que lhe retirou o último parágrafo.



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