21 março 2014

Restruturação (ir)responsável?

“Há que encontrar outros caminhos que nos permitam progredir. Esses caminhos passam pela desejável reestruturação responsável da dívida através de processos inseridos no quadro institucional europeu de conjugação entre solidariedade e responsabilidade”.

É este o tom genérico, pomposo e quase professoral do famoso manifesto dos 70 (ou 74) notáveis. Eu não sou notável mas pude constatar há bastante tempo que a dimensão da nossa dívida versus as taxas de juro associadas configuram uma situação insustentável. Não entendo é o porquê desta mobilização agora. Quando a negociação com a troika ainda estava em aberto, nomeadamente o valor da taxa de juro do empréstimo, porque é que estes notáveis e demais responsáveis não lutaram com unhas e dentes por uma taxa mais razoável?

Se é certo que apesar de toda a boa vontade dos discursos oficiais optimistas há sérias dúvidas sobre o conseguirmos sair deste buraco sozinhos, este manifesto tem alguns problemas, para lá da estranha oportunidade. Considerações com paralelos com a Grécia é alinharmos por uma referência muito baixa, diria mesmo vergonhosamente baixa. Comparação com a Alemanha no final de uma guerra… não tem comentários. Mais importante, o manifesto/dissertação ignora completamente a nossa responsabilidade no crescimento da dívida. Trata a dívida como uma fatalidade, um acidente que sofremos e para o qual precisamos de ajuda.

Se é certo que precisamos e precisaremos de ajuda, a responsabilidade primeira no processo é nossa. Identificando a origem do problema, as acções necessárias para não se repetir e estabelecendo um compromisso abrangente e responsável para o futuro. Não vale a pena apelarmos a um “quadro institucional europeu de conjugação entre solidariedade e responsabilidade” enquanto o nosso trabalho de casa não estiver feito. Os notáveis e demais responsáveis estarão interessados nisso
?

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