14 março 2014

A última vítima do 11 de Março

Um amigo espanhol mais de esquerdas do que de direitas chamava ao jornal “El Mundo” o “Imundo”, tal era a falta de isenção e arrogância quando se tratava de defender a outra Espanha, a conservadora. Ao ler agora algumas notícias e análises evocativas dos 10 anos dos atentados de Madrid de 11 de Março, descobri algo pior do que imaginava.

Os atentados ocorreram 3 dias antes das eleições legislativas e ao PP no poder dava jeito que tivesse sido a ETA. Afirma o juiz Baltasar Garzon que La Moncloa (sede do governo) deu instruções para ser afirmado que a organização basca era a autora dos atentados. Numa altura em que ainda não se tinham contado as vítimas e em que a própria polícia não encontrava a assinatura da ETA nos indícios, já Aznar sabia e decretava quem era responsável.

A teoria da ETA não pegou e em grande parte devido a essa atitude vergonhosa o PP perdeu as eleições. Foi um choque brutal para o seu orgulho. Rodolfo Ruiz era comissário da polícia em Vallecas, um dos locais em que explodiram as bombas. Entre o material recolhido pela sua equipa estava uma mochila com uma bomba por explodir, cuja investigação foi determinante para chegar aos autores dos atentados e definitivamente excluir a ETA. Para o PP esta mochila foi fatal e melhor seria ela não ter aparecido… e… se tivesse sido uma manipulação? É uma mochila maldita e todas as suspeições e insinuações são possíveis e permitidas sobre o comportamento do polícia responsável pela sua existência.

Uns anos mais tarde, o mesmo polícia interpela dois militantes do PP que numa manifestação de direita tentam (aparentemente) agredir um ministro socialista. Não faltou mais nada para ser declarado inimigo mor do PP. É julgado por essa interpelação, é condenado e posteriormente absolvido pelo Supremo. Em paralelo é vítima de uma campanha violentíssima de insultos e difamação por parte do “Imundo” e da hierarquia religiosa, chegando a ser até acusado de ter colaborado com os terroristas.

Ele quebra psicologicamente e a mulher assume a defesa da honra e da imagem do marido e da família. É uma luta perdida. Os “conspiranóicos”, como ficaram conhecidos pelo outro lado, não têm nada a corrigir nem a desculpar. Ela fica arrasada também e acaba por se suicidar. Foi mais uma vítima do 11-M e, sobretudo, duma certa Espanha arrogante, facciosa e sem valores. Não é toda assim, evidentemente, mas penso que em poucos países do mundo civilizado isto poderia, a estes níveis, ter chegado a este ponto.

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