31 maio 2008

Apesar da festa do Euro

Numa entrevista recente Filipe Soares Franco afirmava que no Sporting o “futebol era prejudicado pelas modalidades”. Não conheço pormenores, nem sei se o Sporting tem uma situação muito diferente de outros clubes. Acredito que possa ter.

No entanto, parece-me mais correcto dizer que o “Desporto” é prejudicado pelo “Futebol”. O futebol profissional é uma actividade em que uns artistas bem pagos apresentam um espectáculo competitivo que nem sequer se pode considerar cultural. Não há nenhuma razão para o erário público suportar ou ajudar essa actividade, antes pelo contrário, ela deveria ser um contribuinte líquido.

Desporto é feito com participação, que se quer salutar, de uma larga faixa de população que o pratica por gosto, por vontade de desenvolvimento saudável e por uma série de razões positivas e construtivas. Apoiar este, sim, é de interesse público e o “estado” tem obrigação, na sua repartição da riqueza recolhida pelos impostos, garantir que todos os cidadãos têm acesso à prática o mais ampla possível de desporto.

Portanto, a minha sugestão é separem-se as águas. Espectáculo para um lado e desporto para outro. E um espectáculo simples de entretenimento social não merece estatuto de utilidade pública nem nenhum tipo de benesse ou subsídio. Merece sim contribuir para a prática do verdadeiro desporto.

24 maio 2008

Festival como este? Não, nunca mais….”



Os que estão abaixo dos “entas” não sabem nem imaginam o que era o Festival da Canção há 30 e tal anos atrás. Um verdadeiro acontecimento nacional com o país especado em frente ao televisor vendo passar basicamente os mesmos e esperando ansioso pelo fim da estrepitosa votação telefónica dos vários distritos: “Allo Viseu! Viseu? Viseu!!! Viseu, esperamos a sua votação! … estamos com problemas de ligação com Viseu… ”

Esse interesse seria provavelmente devido à escassez de espectáculos de entretenimento e de “palcos”. O que é certo é que o 25 de Abril mudou muita coisa e isso também. À procura de detalhes sobre um famoso concurso de um quente 1975, encontrei este sítio que tem lá tudo de tudo. Giro para os “entas”.

Voltando a esse concurso de 75, o júri era composto pelos autores das canções participantes. Não seria bem uma forma de juiz em causa própria, mas mais uma espécie de “auto-avaliação”, na altura em que estava na moda a “auto-gestão” e que poupou umas chamadas longas e complicadas para Viseu, Vila Real e Bragança.

Os participantes tinham mensagens curiosas. Estavam lá uns habituais Paco Bandeira dizendo que “sou o estandarte novo desta muralha, sou a batalha-povo que em mim se ganha” e um Paulo de Carvalho trazendo histórias de “Com um arma, com uma flor” em que “em Abril, Abril, […] nasceram bandeiras da cor deste sangue”.

Um tal Carlos Carvalheiro cantava um tema de Sérgio Godinho, anunciando que andava uma “boca de lobo a morder na nuca do povo”. Outro tal de Fernando Gaspar contava que "o leilão da lata vai terminar quando a barraca for pelo ar […] na terra vermelha nasce uma fonte”.

Jorge Palma, para lá de um tema “seu”, ao pianinho, vinha ainda com Fernando Girão informar que “diz o povo que o pecado essencial é o capital”. O registo mais assinalável pertencia, no entanto, a José Mário Branco e “pela terra que lhes rouba esse canalha dos monopólios e grandes proprietários, camponeses lutam pela reforma agrária p’ra dar a terra àquele que a trabalha”.

A coisa não correu muito bem porque, apesar de tanto fervor e tantos autores alinhados, quem ganhou foi Duarte Mendes com um "Madrugar" que era assim uma ligeira evocação dos amanhãs que cantam. Foi tamanha a decepção e a confusão, quase chegando a vias de facto, que José Mário Branco fez uma declaração histórica: A canção escolhida ira representar a burguesia na palhaçada de Estocolmo e que, para isso, o “Alerta” não servia. Só não explicou porque participou.

Enfim, um ano bem transitório, em que se cruzaram num palco a perder protagonismo, protagonistas a caminho de outros palcos.

22 maio 2008

Más notícias

Para Paulo Portas e outros da mesma linha retórica, que bradam e ladram pela situação gravíssima de insegurança que se vive em Portugal, saíu uma má notícia. Segundo o Instituto para a Economia e Paz australiano, Portugal é o 7º país mais seguro do mundo. Neste índice GPI (Global Peace Índex), Portugal está bem à frente de toda a Europa Mediterrânica com a Espanha em 30ª, a Itália em 28ª, a França em 36ª a Grécia em 54ª.

Ora bem, isto e outros detalhes só provam para quem não sabe ou está distraído que… Portugal é um paraíso!

Não é motivo para achar que está tudo bem e que podemos repousar tranquilamente à sombra da qualidade de vida actual. Não, isso nunca, mas… quanto mais conheço países….

Todos os detalhes aqui.
PS: E o mérito principal não é do governo nem da oposição, obviamente!

19 maio 2008

Por quem os sinos dobram


Não era dali e, por isso, dali partiu. Pela forma como vestia ou como teria actuado. Por acções ou intenções, provadas ou presumidas, estava a ser delapidada. Não parecia um processo tradicional, organizado, em que o condenado é preparado e parcialmente enterrado, os homens até à cintura e as mulheres até ao peito. Parecia mais uma iniciativa espontânea. Uma mole masculina acotovelava-se e saltava em torno e por cima dela, para atirar pedras, dar pontapés, fotografar e filmar. Há tanto interesse em agredir como em registar. É, aliás, a difusão de um desses registos que me alimenta esta descrição e de onde extraí as imagens acima inseridas.

Ela em posição fetal tenta proteger a cara ensanguentada. Resiste às tentativas de ser exposta, para pedra, pontapé ou fotografia. Tenta debilmente erguer-se, mas cai rapidamente. Finalmente, uma grande pedra imobiliza-a. Alguém a eleva bem alto para a atirar de novo, rebentando o crânio. Uma poça de sangue espalha-se lentamente e a turba acalma. Terminam os pontapés e as pedras, reduz o ritmo das fotografias e o filme acaba.

Depois de escrever o texto acima tentei situar o assunto e foi fácil. Passou-se no sul do Iraque, o crime foi namorar com um rapaz de etnia diferente e passar uma noite fora de casa. Tinha 17 anos. O filme que eu recebi tinha minuto e meio, o suplício demorou cerca 30 minutos. Nome: Du’a Khalil Aswad.

E desculpem-me as outras dezenas de milhares de mortos, mas há coisas para as quais, para mim, os sinos dobram com mais intensidade do que quando é um terramoto na China ou um ciclone na Birmânia.




“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."

De Jonh Donne e utilizado por E. Hemingway para título do seu famoso romance.

16 maio 2008

Fome no mundo

Saltou para a passadeira mediática a questão da escassez de alimentos no mundo. E ainda bem. Antes esse tema do que uma qualquer futilidade. Agora, o que eu acho que falta dizer claro é qual a razão de fundo do problema.

Evidentemente que há o aumento da população, as alterações climáticas e um bocadinho de transferência de plantações para bio-combustíveis, mas nada que não se pudesse ultrapassar com uma boa gestão dos recursos do planeta. Nem são necessárias grandes evoluções da ciência. Com o conhecimento actualmente existente é suficiente.

O problema está na miserável gestão que acontece em tantos cantos do mundo que transforma “celeiros” em “desertos”. Se os chineses dizem que para matar a fome a um homem é melhor ensiná-lo a pescar do que lhe dar um peixe, que dizer daqueles que sistematicamente destroem as canas de pesca que possuem? Continuar a despejar peixes, de pára-quedas, nessas situações é necessário no curto prazo mas bastante contraproducente. Faz sentido continuar assim?
E, se provas fossem necessárias, veja-se o que se passou nos últimos 60 anos numa faixa de terra ali no extremo oriental do Mediterrâneo e que se chama Israel. Polémicas e credos à parte, se metade do mundo tivesse uma gestão da agricultura e de água igual à de Israel, onde estaria a carência de alimentos no mundo?

14 maio 2008

Prenda-se, disseram eles

Um homem, seguramente emocionalmente descompensado, sequestrou magistrados e funcionários do Tribunal de Gaia, com uma pistola de alarme e uma caixa de componentes electrónicos a fingir de explosivos. É grave e entende-se que seja mesmo muito grave sequestrar magistrados. Para isso, a justiça não perdoa. Aparentemente no fundo da questão estaria o facto de não ver um filho há 18 meses. Pode ser motivo para atitudes desesperadas, mas, seguramente, não desculpáveis.

Decretou o Tribunal de Instrução Criminal que ele aguardaria o julgamento em prisão preventiva, o que me surpreende. Entendo pouco de justiça mas creio que especialmente neste enquadramento, em que felizmente não há consequências “pesadas”, a medida de coacção toma principalmente em conta o que o indivíduo possa vir a fazer enquanto aguarda. A prisão preventiva destina-se a prevenir reincidências, ocultação de provas, possibilidade de fuga, etc, tudo coisas que não me parecem corresponder ao caso em questão.

Por isso, questiono: será mesmo justificável que se aplique prisão preventiva neste caso? Foi por castigo? Mas ninguém é castigado antes de ser julgado e condenado, pois não? Ou será simplesmente um excesso de qualquer coisa, talvez e apenas porque tudo se passou num “Palácio da Justiça”?

04 maio 2008

Por uma vez

"Um dia chove, outro dia faz sol". Manhã húmida ou tarde seca. Ou, antes pelo contrário.
Nem sempre é dia para zurzir no governo ou na oposição. Nem sempre é altura de procurar e titular fotos com impacto. Por vezes o crepitar do mundo não nos invade e não nos domina.
Por vezes, basta o prazer e a satisfação de ver que a assembleia em volta da mesa da refeição resistiu sentada ao final da sobremesa.
Por vezes, apetece dizer: "Paz na terra a quem cá está de boa vontade!".

01 maio 2008

Um petisco !


Assim lhe chama quem o come. Eu ainda não ganhei coragem, mas também reconheço que quem não começou a comer cabidelas e papas de sarrabulho em pequenino, talvez olhe para esses pratos da mesma forma como eu olho para estas magníficas cabeças de carneiro assadas.