24 maio 2008

Festival como este? Não, nunca mais….”



Os que estão abaixo dos “entas” não sabem nem imaginam o que era o Festival da Canção há 30 e tal anos atrás. Um verdadeiro acontecimento nacional com o país especado em frente ao televisor vendo passar basicamente os mesmos e esperando ansioso pelo fim da estrepitosa votação telefónica dos vários distritos: “Allo Viseu! Viseu? Viseu!!! Viseu, esperamos a sua votação! … estamos com problemas de ligação com Viseu… ”

Esse interesse seria provavelmente devido à escassez de espectáculos de entretenimento e de “palcos”. O que é certo é que o 25 de Abril mudou muita coisa e isso também. À procura de detalhes sobre um famoso concurso de um quente 1975, encontrei este sítio que tem lá tudo de tudo. Giro para os “entas”.

Voltando a esse concurso de 75, o júri era composto pelos autores das canções participantes. Não seria bem uma forma de juiz em causa própria, mas mais uma espécie de “auto-avaliação”, na altura em que estava na moda a “auto-gestão” e que poupou umas chamadas longas e complicadas para Viseu, Vila Real e Bragança.

Os participantes tinham mensagens curiosas. Estavam lá uns habituais Paco Bandeira dizendo que “sou o estandarte novo desta muralha, sou a batalha-povo que em mim se ganha” e um Paulo de Carvalho trazendo histórias de “Com um arma, com uma flor” em que “em Abril, Abril, […] nasceram bandeiras da cor deste sangue”.

Um tal Carlos Carvalheiro cantava um tema de Sérgio Godinho, anunciando que andava uma “boca de lobo a morder na nuca do povo”. Outro tal de Fernando Gaspar contava que "o leilão da lata vai terminar quando a barraca for pelo ar […] na terra vermelha nasce uma fonte”.

Jorge Palma, para lá de um tema “seu”, ao pianinho, vinha ainda com Fernando Girão informar que “diz o povo que o pecado essencial é o capital”. O registo mais assinalável pertencia, no entanto, a José Mário Branco e “pela terra que lhes rouba esse canalha dos monopólios e grandes proprietários, camponeses lutam pela reforma agrária p’ra dar a terra àquele que a trabalha”.

A coisa não correu muito bem porque, apesar de tanto fervor e tantos autores alinhados, quem ganhou foi Duarte Mendes com um "Madrugar" que era assim uma ligeira evocação dos amanhãs que cantam. Foi tamanha a decepção e a confusão, quase chegando a vias de facto, que José Mário Branco fez uma declaração histórica: A canção escolhida ira representar a burguesia na palhaçada de Estocolmo e que, para isso, o “Alerta” não servia. Só não explicou porque participou.

Enfim, um ano bem transitório, em que se cruzaram num palco a perder protagonismo, protagonistas a caminho de outros palcos.

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