31 maio 2007

Zé Cabra, artista plástico

Num daqueles didácticos e pitorescos “zapping” pelas rádios de província de Portugal, apareceu-me o em tempos famoso Zé Cabra. O tipo não tem voz, não sabe cantar, não entra no tempo nem no tom, mas foi um sucesso, por um curto período, é certo, mas foi um sucesso.

Será que a sua popularidade foi alcançada pela diferença? Se “toda a gente” entra no tempo e no tom, aquela diferença, realmente, destaca-se! Pode haver obras primas em que o não cumprimento das regras habituais é o que lhes confere a genialidade. José Afonso usava e abusava de dissonâncias com um resultado admirável. Muitas novas estéticas e tendências nascem precisamente de um movimento de ruptura com a norma vigente. Trata-se de um campo bastante delicado, em que a diferença entre o genial e o lixo pode ser ténue e, tantas vezes, polémica.

O caso do Zé Cabra é um extremo ridículo e facilmente etiquetável. Destas reflexões passei para a última exposição de artes plásticas que visitei. Provavelmente saturados de estéticas harmoniosas e, já agora, também trabalhosas, há artistas plásticos que nos brindam com barras de ferro mais ou menos ferrugentas, mais ou menos torcidas. Talvez alguém consiga ver algum valor estético naquilo... Eu, por mim, ponho-as directamente ao lado do Zé Cabra na galeria das excepções nulas e inconsequentes.

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