20 setembro 2006

Ainda o "Grand Jacques"...

Pensava eu que já tinha captado tudo do "Grand Jacques", quando da minha caixinha com a obra completa saltou esta que passo aqui em tradução bastante livre:

Por um pouco de ternura eu ofereceria os diamantes que o diabo acaricia nos meus cofres de prata. Porque crês tu, ó bela, que no porto os marinheiros esvaziam as algibeiras para oferecer tesouros a falsas princesas?
Por um pouco de ternura...!

Por um pouco de ternura eu mudaria de rosto, mudaria de embriaguez, mudaria de língua. Porque crês tu, ó bela, que no alto dos seus cantos, imperadores e menestréis abandonam tantas vezes poderes e riquezas?
Por um pouco de ternura...!

Por um pouco de ternura eu oferecer-te-ia o tempo de juventude que resta no verão que se acaba. Porque crês tu, ó bela, que a minha canção cresce até à renda clara que dança na tua fronte, pendendo para o meu desespero?
Por um pouco de ternura...!


Jacques Brel, "La tendresse"

3 comentários:

Anónimo disse...

Também a ternura do leitor que se enternece com a beleza desta ternura…

Anónimo disse...

Que lindo...ainda bem que a levaste!
Uma caixinha cheia de ternuras!

APC disse...

Sublime!

Também o tenho - a ele, Brel - à espera nos meus "rascunhos" a oportunidade de me suportar a expô-lo, tão só isso (Je m'en remets à toi). Há coisas tão bem ditas de sentidas...
A força do poder que reside no querer, no desejo e na vontade... A esperança que sempre subsiste na confissão de desesperança, a riqueza de se ter connosco, para sempre, algo que se foi mesmo que doa a saudade... E o saber dizê-lo para não o sufocar, e, ainda assim, morrer no sufoco de uma conversa a sós, para nela reviver e em quem nos leia...

Mas pronto, fico-me por aqui, que já miscisgeno o teu tema com aquele que é hoje o meu tema:

"Tu vois, on peut croquer la terre" (idem)