29 março 2006

Recolher ou cultivar empregos

Há uns anos atrás, quando estava a iniciar um processo de recrutamento na Bélgica, disseram-me que havia uma fonte enorme de candidatos que era o organismo oficial de emprego/desemprego.

Acontecia o seguinte: os recém-licenciados, imediatamente após concluirem o seu curso, inscreviam-se directamente no “desemprego” e, após algum tempo, creio que 6 meses, passavam a receber um subsídio de desemprego, mesmo sem nunca terem tido trabalhado. Não sei se essa legislação foi entretanto alterada. Sei que era claro para mim que a pessoa que procurávamos não era seguramente alguém que, após terminar os estudos, ficava à espera passivamente que se completassem alguns meses para começar a receber o subsidio de desemprego a que “tinha direito”.

Recordei-me deste caso a propósito das actuais manifestações em França. Como é possível que dois anos de “precaridade” sejam um drama para quem está a começar a vida? Saberão eles que a sociedade do emprego não é “recolectora” mas sim “cultivadora”. Saberão eles que emprego não é um fruto feito que se colhe e que eles, assim, estão a queimar o terreno de cultivo? Saberão eles que a actual legislação laboral francesa afasta quem lá está e não traz novos?

Por outro lado, creio que não queremos seguramente ter na Europa padrões sociais iguais aos chineses. Não queremos trabalhar nem viver como eles. Agora, para endereçar o problema, será necessário queimar automóveis e fazer a triste “gincana” político-social-laboral? Acho que não. Vai abrir terreno de cultivo para aquelas espécies oportunistas e perigosas que medram na desilusão irresponsável. Vai dar asneira.

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