14 março 2006

Desenvolver o Douro

Tenho alguma dificuldade em falar objectiva e friamente sobre o Alto Douro. Há algumas dezenas de anos que tenho uma relação afectiva muito forte com aquela região assombrosa e que o serpenteio ao longo das suas margens. Uma particularidade do Douro é de, em grande parte, não se tratar de uma paisagem natural mas sim transformada pelo homem. E é muito bela.

Vem isto a propósito do projecto da auto-estrada que irá substituir o IP4 e que os autarcas da Régua, Santa Marta e Mesão Frio querem fazer passar à sua porta. Conheço bem as ligações existentes na zona para reconhecer que, por exemplo, Mesão Frio - Régua tem tanto de bonito quanto de impraticável e o mesmo se poderá dizer da saída para norte de Santa Marta. Agora, também conheço a desgraça paisagística completa que é a A24 na saída da Régua para Vila Real. Uma boa parte do Baixo Corgo ficou completamente desfigurada pelos pilares e viadutos brutais. Custa a crer que não fosse possível fazer algo com menor impacto.

Se os autarcas procuram fazer algo igual na margem direita do Corgo, isso não vai potenciar o “Douro Património da Humanidade". Vai é acabar de vez com a beleza da área. Sem dúvida que é necessário melhorar a rede viária ao longo do Douro e, se calhar, o Douro Superior até está muitíssimo pior servido. No entanto, se a solução é espetar colunas e estender viadutos pelas duas margens de cada rio e riacho, isso não é necessariamente desenvolvimento. Isso é destruição. E seria pena...

E, para desgraça, também já basta a arquitectura que por lá se tem feito.

4 comentários:

Titá disse...

Infelizmente, muitas vezes se confunde desenvolvimento, com destruição.
Em Portugal, há, cada vez mais, falta de respeito e mau gosto genético.
Debaixo da bandeira ecológica ou sentimentalista, da preservação e conservação da natureza e da beleza tipica, poderemos argumentar contra o desenvolvimento?
Poderemos privar populações ao direito de melhores condições ( neste caso rodoviárias e de acesso) em prol de uma beleza, paz ou assombro que só os cosmopolitas conseguem olhar?
Esse dilema, já o vivi muitas vezes, em vários sitios de Portugal....
Nunca encontro a melhor resposta. Tu encontraste a tua nesta reflexão?

Carlos Sampaio disse...

A reposta é uma palavra: equilíbrio.
E, já agora, juntando outras: sensibilidade, razoabilidade, seriedade e por aí fora...

Anónimo disse...

Com esta construção impensada de vias rápidas, só conseguimos uma coisa, a destruição a todos os niveis sem excepção.
O equilibrio do ecossistema é constantemente posto em causa.
Não quero que o meu País seja destruido e enchido de cimento armado, gostava de encontrar alternativa.
Será que muitos saberão realmente o significado da palavra DESENVOLVIMENTO?
Para desenvolvermos não é necessário destruirmos.
Se por acaso algum engenheiro ou arquitecto ler este artigo, queira p.f. comentar.

Titá disse...

Carlos, os PDM bem estruturados e aplicados pelas Câmaras Municipais, também seriam uma mais valia....assim, como uma definição mais estruturada de arquitectura e da engenharia, bem como a separação, ou definição de atribuições de cada uma destas àreas, contribuiriam por certo, para o equilibrio que gostariamos de ver pelo País que amamos e q tem tanto de belo.