17 janeiro 2018

Coisas de engenheiro


Começo com uma declaração de contexto e eventual interesse: sou engenheiro, de formação e acho que de vocação. Talvez não seja um exemplar puro, puro, mas também não me enquadro numa das raras exceções enunciadas pelo Dilbert. Concretizando e citando de memória: não sou do tipo genuíno que ao pegar num comando remoto se interroga sobre o que será necessário fazer para o transformar numa pistola de choque; nem serei daqueles raros que não se interessam pelo principio de funcionamento de uma máquina ou utensílio, desde que a coisa funcione. Quando tenho algo na mão, ou à vista, preciso obrigatoriamente de entender minimamente como a coisa é e o que se passa lá dentro. O mesmo se aplica a números ou teorias que me apresentem. Tendo sempre a procurar descascar a coisa…

Vem isto a propósito da falta de rigor na promoção das vantagens ambientais dos carros elétricos. É moda, é cool, é zero emissões, é fantástico! Até a Tesla anuncia ir fazer camiões elétricos para motivar uns investidores a meter mais uns cobres na empresa, que para já só gasta, sempre a perder. Até os políticos descobriram ser fixe legislar a favor dos elétricos.

O veículo elétrico será “zero emissões” se a energia elétrica vier exclusivamente de fontes renováveis. Como não é o caso atual, nem o será a curto/médio prazo, mais necessidade de energia elétrica implica mais consumo de petróleo, gás, carvão e afins, já sem falar em nuclear. Assim, as contas deveriam ser entre ter um combustível, ele ser processado, transportado e utilizado num veículo tradicional ou, em alternativa, começar por queimá-lo para produzir eletricidade, transportá-la, carregar baterias, tudo isto tem perdas, e finalmente ter energia mecânica no veículo. Qual o impacto global do caminho completo em ambos os casos?

Não haverá uma forma única de fazer estes cálculos e o segundo caminho até pode ser mais vantajoso em termos ambientais, mas zero emissões não o será, nunca. Enquanto não saírem contas deste tipo, abrangentes… é marketing, coisa de pessoal irresponsável e de utilidade duvidosa, na perspetiva dos engenheiros genuínos, que, muito pragmaticamente, não reconhecem grande mérito ao parecer. Quem discordar, faça o favor de imaginar um automóvel cujos travões parece que travam…

Sem comentários: