10 março 2016

Entre a ofensa e a censura…



Recordam-se do “Humor de Perdição” ter sido suspenso por um “sketch” envolvendo a Rainha Santa Isabel? E de “O Evangelho segundo Jesus Cristo” ter sido banido de uma lista de prémios por ofensa aos bons costumes? E de Salman Rushdie ter sido condenado à morte por “Os Versículos Satânicos”? E das graves consequências das caricaturas de Maomé, culminadas com o ataque ao jornal Charlie Hebdo de Janeiro 2015?

Há uma questão comum à partida, o limite da provocação em questões de fé, e um mundo de diferença quanto às consequências práticas. Saramago gostava de se considerar exilado, sendo isso um exagero e um despropósito desrespeitador da situação dos que realmente se viram obrigados a fugir do seu país.

A provocação pode servir para questionar temas dormentes e ajudar a sociedade a encontrar-se consigo própria. Pode também ser de muito mau gosto, mas o mau gosto não é proibido nem, muito menos, deverá dar prisão ou pior sorte. É também curioso como, nestas polémicas, frequentemente os “ofendidos” reagem e protestam veementemente, ignorando os detalhes do objeto, origem da ofensa.

O “O Evangelho segundo Jesus Cristo” é um excelente livro, lido com prazer por quem não se chocar com o tema, lido com tensão e interrogação por um crente que faça o exercício de o atravessar ou ignorado por quem abominar o fundo da narrativa. Entre uma potencial ofensa e a censura, será sempre preferível a primeira, passível de ser ignorada, desde que não caia no campo do apelo ao ódio.

Valerá a pena evocar: “Se amigos e inimigos não conseguem ofender-te, […] - O Mundo será teu, e tu serás um Homem!”(Rudyard Kipling)?

Dito isto, uma coisa é não proibir, outra coisa é apreciar. A provocação pela provocação, mal fundamentada e estéril é coisa de crianças ou de adultos mal crescidos. O cartaz do BE sobre os dois pais de Cristo, cai neste campo. Pragmaticamente alguns responsáveis lá vieram reconhecer não ser “eficaz”. Não é isto que se espera de um partido político adulto. Já imaginaram um partido de direita citando a Bíblia para argumentar em sentido contrário?

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