11 março 2016

Outras vítimas

Já aqui atrás contei a história da última vítima dos atentados de Madrid do 11 de Março de 2004. Não morreu pelas bombas terroristas. Morreu vítima da manipulação e da prepotência. Em resumo, e para quem não abriu o link acima, trata-se da mulher do comissário de polícia de Vallecas, local onde se encontrou a mochila-bomba não explodida, prova fundamental para identificar a origem muçulmana dos atentados e arrumar de vez com a fantasia da ETA que tanto jeito dava ao PP. Este nunca perdoou ao polícia ter sido o involuntário responsável pelo desmascarar da sua mentira.

Para lá do contexto específico, ser Espanha ou outro país, se quem manipula é um partido de direita ou de esquerda, é certamente muito grave alguém morrer devido não ao ato terrorista, claramente ilegal, com leis claras que o marginalizam e objeto de ação policial que o persegue, mas simplesmente sucumbindo ao assédio injustificável de quem tinha poder e aparelho mediático à disposição. É absolutamente repugnante que poderosos ressabiados, sejam capazes de atacar inocentes de forma tão despudorada, espezinhando-os sem piedade.

O PP perdeu as eleições três dias depois dos atentados, em grande parte, como castigo da sua atitude imoral, mas não aprendeu. O que falta a esta humanidade para ser consistentemente mais honesta, aceitando como únicas regras do jogo válidas as da verdade e as que começam e acabam no respeito pelos semelhantes.

Poder-se-á dizer resignadamente que “nunca”, que é uma utopia. No entanto, sem dúvida, a qualidade do quadro humano e social em que vivemos/viveremos é tanto maior quanto mais próximos estivermos da utopia, quanto menos traficarmos dolos e enganos. Num momento em que no nosso país, parece regredir para um “vale tudo” desde que no interesse próprio; do “manda quem pode” e “quem discorda que se cale” (mesmo tendo razão), não é inoportuna esta reflexão.

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