08 dezembro 2015

A França syrizou?

Não, não se pode dizer isso. Syrizar é uma radicalização do eleitorado para a esquerda e em França ele está a ir para a direita. Para muitos, não é comparável. A subida sustentada da FN em França não é uma surpresa, nem recente. Já em 2002 Jean Marie Le Pen disputou a segunda volta das presidenciais. Da mesma forma como o Syriza de hoje é muito diferente, na prática, da sua teoria de há um ano atrás, a FN de hoje também é bastante diferente, na teoria, da de 2002. Quando cheira a poder, há uma certa pragmatização destas organizações.

Segundo a teoria dos jovens turcos do nosso PS, que defendem um “seguimento” do eleitorado, afastando o partido do centro, para não desaparecer, a direita tradicional francesa deveria estar agora a cair para o extremo, indo para “onde a bola bate!”. 

É algo curioso que na suposta terra da liberdade, igualdade e fraternidade, a extrema-direita cresça desta forma e a outra pouco se note. Nos filmes e nas ficções, viam-se mais resistentes à ocupação do que colaboracionistas e, talvez, a realidade não fosse assim.

Julgo ser guerra perdida, a prazo, criar estes cordões sanitários: “todos contra eles”. No polémico e provocador romance “Submissão”, Michel Houllebecq especula que em 2022 essa aliança já não tem mais alternativa do que apoiar para a Presidência da República o candidato da Irmandade Muçulmana.

Em resumo, os partidos tradicionais do poder estão desgastados fundamentalmente pela sua prática. Ou entendem isso e encontram forças internas para realmente mudarem, ou serão mudados. O que serão estes extremistas na prática, uma vez chegados ao poder, não sabemos. Pode não ser bonito nem positivo. Que por este caminho irão lá chegar, não tenho a menor dúvida.

2 comentários:

A. Rocha disse...

A FN cresce, porque eleições são (ainda) a arma mais eficaz para protestar!
A liberdade, a igualdade e a fraternidade são muitas vezes violadas por aqueles que acolhemos.
Isto revolta. E a Extrema direita vai crescendo. Será correto continuar com a política generosa, de fronteiras abertas, numa Europa cheia de problemas e incapaz de integrar cidadãos revoltados com a nossa forma de vida? Muitos deles passeiam até, pelas nossas ruas, espreitando por dois orifícios do (medieval) véu, como se de um país fundamentalista se tratasse! Não creio que a Europa inverta este tipo de fundamentalismo! Nem ouvimos os "moderados" do Islão, por aqui instalados, lembrar a esses cidadãos que "estão na Europa" e a Europa não é o Afeganistão!
Os franceses não acreditam nisso. Por isso, lá vai mais um cartão vermelho, sobretudo à esquerda permissiva.
A. Rocha

Carlos Sampaio disse...

Caro A. Rocha

Concordo globalmente consigo e acrescento dois pontos:

- Existe xenofobia pura e dura com algum significado em França. No entanto atribuir o sucesso do FN apenas a essa doença é “enterrar a cabeça na areia”

- Sobre o futuro de uma Europa maioritariamente muçulmana, podemos especular o que quisermos. No entanto, no presente e que eu conheça, não existe nenhum regime muçulmano no mundo minimamente comparável à nossa Europa em termos de tolerância, liberdade de expressão (mesmo sem chegar ao extremo do Paquistão em que qualquer coisa é blasfémia gravemente punida), liberdade de escolha e de prática religiosa e igualdade de direitos, muito especialmente para as mulheres… Dos que estavam a caminho e mais próximos a Turquia travou e engatou a marcha atrás e a Tunísia descambou sem se saber como acabará…