27 dezembro 2013

Eu e a música tradicional portuguesa - O Antes

A minha relação com a música tradicional portuguesa começa por não existir. Situando-me na segunda metade da década de 70, música portuguesa para mim era Sérgio Godinho, José Afonso, Adriano, José Mário Branco, Fausto, Trovante, Banda do Casaco e por esses lados fora…


Música tradicional era tipicamente uma senhora a cantar num registo muito alto, acompanhando um acordeão muito forte e com um tilintar de ferrinhos estridente. Estridente seria a palavra principal a aplicar. Da mesma forma como não tínhamos petróleo nem carvão de qualidade, também não teríamos música tradicional rica. A respeitar, é certo, mas pobre.

Por outro lado, nos tempos do Estado Novo, o folclore foi objecto de alguma manipulação não inocente nem decente. O “regime” da altura não se interessava muito sobre o fundo do povo e pouco valorizava a sua cultura tradicional, mas usava o “folclore” como montra de propaganda, reduzido aos estereótipos do Vira Minhoto, Corridinho do Algarve, Fandango Ribatejano, Bailinho da Madeira, Pauliteiros de Miranda, num espectáculo bonitinho e superficial …. Daí o nome ser usado nalguns meios para adjectivar qualquer coisa com mais de 3 cores e sem muita substância.

Alguns dos nomes acima citados fizeram algumas incursões pelo campo do tradicional, sendo talvez de destacar (para mim) o Zeca Afonso, o Adriano e a Banda do Casaco, mas esses trabalhos eram interpretados (pelo menos por mim na altura) como um ir buscar inspiração e não como representativos da qualidade e da riqueza do tradicional original.

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