Existe claramente, na minha opinião, um responsável principal pelo empobrecimento da música tradicional, pelo menos nas Terras de Santa Maria, que são as minhas, e que se chama acordeão. Quando os grupos folclóricos são criados, nos anos 50 ou 60, mais década, menos década, o acordeão existe na música tradicional, mas é um recém-chegado. Na época de referência a que se reportam os grupos, início do século XX, não existia. A sua inclusão é um anacronismo que infelizmente não foi expurgado.
Podia ter um efeito subtil, apenas visível ao perto por especialista, como usar uma camisa de fibra sintética em vez de linho, mas não. Poderia ter um efeito apenas visual, como usar uma viola clássica amarelinha em vez de uma popular de madeira clara, e com sonoridade idêntica, mas não. O som é diferente de todos os outros.
Poderia ser um som novo mas complementar, como se, por exemplo, se acrescentasse uma guitarra de fado numa tocata e ela por lá se misturasse, mas não. A natureza é completamente diferente e não se integra. As cordas têm uma sonoridade saltitante e sincopada, o acordeão é redondo e contínuo. Tem, ainda, uma potência tal que se sobrepõe a tudo e reduz os instrumentos de corda “antigos” a um estatuto secundário e apagado.
Quando Júlio Pereira lança o álbum “Cavaquinho”, abre-se a boca toda para trás de espanto: como é possível que um instrumento assim existisse e não se conhecesse daquela forma? Sim, ele andava nos grupos folclóricos, mas muitas vezes em função pouco mais do que meramente figurativa.
E, ainda, o acordeão poderia ser tocado de uma forma equilibrada, dando espaço aos demais participantes, e, por exemplo, recuando quando alguém começa a cantar, deixando o protagonismo às vozes, que é quem o deve ter nesses momentos, mas não. Por norma, ele arranca a pleno fole, faz tudo, tudo, do princípio ao fim e quem quiser que venha atrás …
Continuação do anterior "Alguns sinais"
Continua para "Da teroria à prática"
Podia ter um efeito subtil, apenas visível ao perto por especialista, como usar uma camisa de fibra sintética em vez de linho, mas não. Poderia ter um efeito apenas visual, como usar uma viola clássica amarelinha em vez de uma popular de madeira clara, e com sonoridade idêntica, mas não. O som é diferente de todos os outros.
Poderia ser um som novo mas complementar, como se, por exemplo, se acrescentasse uma guitarra de fado numa tocata e ela por lá se misturasse, mas não. A natureza é completamente diferente e não se integra. As cordas têm uma sonoridade saltitante e sincopada, o acordeão é redondo e contínuo. Tem, ainda, uma potência tal que se sobrepõe a tudo e reduz os instrumentos de corda “antigos” a um estatuto secundário e apagado.
Quando Júlio Pereira lança o álbum “Cavaquinho”, abre-se a boca toda para trás de espanto: como é possível que um instrumento assim existisse e não se conhecesse daquela forma? Sim, ele andava nos grupos folclóricos, mas muitas vezes em função pouco mais do que meramente figurativa.
E, ainda, o acordeão poderia ser tocado de uma forma equilibrada, dando espaço aos demais participantes, e, por exemplo, recuando quando alguém começa a cantar, deixando o protagonismo às vozes, que é quem o deve ter nesses momentos, mas não. Por norma, ele arranca a pleno fole, faz tudo, tudo, do princípio ao fim e quem quiser que venha atrás …
Continuação do anterior "Alguns sinais"
Continua para "Da teroria à prática"
Sem comentários:
Enviar um comentário