29 fevereiro 2012

Por acaso

Por acaso, após aqueles programas que se dizem de “notícias” e que têm um pouco de tudo incluindo notícias, corri alguns canais antes de desligar a televisão, coisa que faço umas 2 ou 3 vezes por mês. Apareceu-me na RTP Memória “O Regresso de D.Camilo” e fiquei agarrado, roubado de umas duas horas e tal ao meu encontro com a cama.

Para lá do “agradável” da comédia e do espírito do humor, há algo de mais naqueles personagens. Uma enorme humanidade e respeito pelo homem. Para lá das trapaças e rasteiras pouco honestas trocadas entre o padre e o presidente da junta comunista existe como que uma linha fundamental intransponível: no fundo há homens que se respeitam. Como se no fundo a brutalidade não fosse mesmo brutal, como se a mentira não fosse mesmo a sério, até às últimas consequências. Não sei. Não consigo descrever mas há um valor humano muito intenso e digno que quando o “perigo” se aproxima desperta e bloqueia o ir longe demais. Digno e humano.  
   

26 fevereiro 2012

O Artista

Tem um enredo em “bossa de camelo”, sobe, cai na fossa e no fim sobe de novo, acabando tudo bem; as personagens são absolutamente lineares e sem surpresas; a narrativa é tão previsível que podemos ir adivinhando o desenvolvimento em avanço. Pois é... Não é um filme para intelectuais... 

Mas é um filme belíssimo e não é por acaso. Há detalhes de sobe e desce de escadas a subir e a descer, planos inclinados… e sorrisos maravilhosos, expressões ríquissimas e que é um gosto ver …  pois é; a beleza não precisa de ser complicada pois não? Um filme belíssimo (na minha opinião é claro…)

24 fevereiro 2012

De quem se fala

Confesso que tenho mais simpatia por Barcelona do que por Madrid e que essa preferência se transmitiu numa primeira fase ao Barça x Real. Com a história da transferência do Figo, o meu “respeito” pelo clube catalão baixou bastante. Neste momento “me encanta” que o Real regresse aos títulos e que para isso tenha necessitado de Portugueses em que, para lá do C. Ronaldo, esteja especialmente o “Mou”. Sem concordar com muitas das suas posições e afirmações, acho sumamente divertida a trovoada que ele causa por terras de Castela. 

Por isso tenho sempre alguma curiosidade quando vejo um título sobre Mourinho. Desta vez era “Mourinho acusado de ser homofóbico” e lá vem a interrogação “o que é que foi desta?!!”. Pelos vistos, antes do último jogo com o CSKA em Moscovo e face ao atraso dos anfitriões em decidirem qual a bola que seria usada, ele terá dito “Quando é que estes mariconços se decidem…?” e lá veio uma associaçõe que eu nem sonhava que existisse - Federação Europeia de Gays e Lésbicas Desportista - com um “ai Jesus” que isso não se diz” e a solicitar à Uefa que tome medidas e imponha sanções! Sendo que mariconço/maricas não é equivalente a homosexual, a atitude dessa tal federação foi, isso sim, verdadeiramente mariconça!

Está cada vez mais difícil usar algum tipo de adjectivo depreciativo. Em torno da raça está mal é claro; autista e atrasado mental é politicamente incorrecto, se bem que dizer que alguém que ouve está a ser surda não é pejorativa para os verdadeiros surdos. Se se usar burro, urso ou camelo já não faltará muito para uma associação protectora dos animais se indignar. A ser assim, pelo seguro, o melhor é atirar com um rotundo e implacável:

- normal, saudável, descomplexado e heterossexual!!!

Ainda não tem conotação negativa mas já faltou mais e para estes não haverá seguramente nenhuma associação que se manifeste.

22 fevereiro 2012

Cinzas

Da mesma forma que acho que só deve gozar férias quem trabalha, também acho que só deveria gozar o Carnaval – Carne Vale – Adeus à carne - quem a seguir realmente fizer quaresma. Grande heresia ? Talvez: ao fim e ao cabo toda a gente tem o direito de se divertir e o motivo de fundo é secundário…!

Estarei a exagerar, um pouquinho. Obviamente que para lá de os antecedentes do Carnaval poderem estar para lá desse antes da quaresma, também a sua história mais recente terá enraizado e contraído um significado próprio e desligado do pré-jejum.

Conheci um alemão que um mês por ano resolvia fazer um jejum de : álcool, tabaco, café e chocolate. Ignoro se fazia uma despedida no último dia antes de iniciar o ciclo, mas era uma forma de se convencer que podia viver sem esses 4 “vícios”.

Não, não o faço e também não celebro o Carnaval, mas no fundo não posso deixar de estar de acordo que o valor de muita coisa só se clarifica na sua carência/quaresma.

E, pode não ter muito a ver mas lembrei-me de um álbum do grande Chico Buarque de 1978 em que durante a ditadura el falava num “cálice”, invocando a censura do “Cale-se” e que incluía uma belíssima música de Silvio Rodrigues que só mais tarde aprendi a ler aquela história dos mortos da felicidade:

Vivo en un país libre
cual solamente puede ser libre
en esta tierra, en este instante
yo soy feliz porque soy gigante.
Amo a una mujer clara
que amo y me ama
sin pedir nada
o casi nada,
que no es lo mismo
pero es igual

Y si esto fuera poco,
tengo mis cantos
que poco a poco
muelo y rehago
habitando el tiempo,
como le cuadra
a un hombre despierto.
Soy feliz,
soy un hombre feliz,
y quiero que me perdonen
por este día
los muertos de mi felicidad.

15 fevereiro 2012

And I will always love you

Claro que não, claro que não há sempre, como o triste fim da menina bonita desta fotografia ilustra. Não há sempre, nem nunca, nem tudo nem nada. Mas, mesmo sendo pieguice, é bonito de ouvir.

E.. como diria um “outro”:

- Se não há nada de mais maravilhoso do que uma mulher que nos tenta conquistar;
- também não há nada de mais ……… do que uma mulher que nos considera conquistados.

E, parece mal para um dia de namorados ?!

10 fevereiro 2012

Kompass life 3

Afinal sempre há novidades … logo após publicar o texto anterior clamando a inexistência de novidades vi a notícia daquela coisa esquisita que dá o nome a esta publicação. É um suposto produto financeiro de um banco alemão, Deutsche Bank.

Eu entendo que se fizer um seguro de vida, terei uma estimativa de vida que será calculada e considerada, de forma mais ou menos agregada, e que se eu viver mais tempo do que essa previsão a seguradora fica a ganhar porque cotizo mais tempo e se eu morrer antes, perdem.

Este conceito do “Kompass life” parece que começou por ser trazer este perder/ganhar para o público. O banco fazia apólices de seguros em nome de indivíduos e pagava os prémios. Quando morriam o dinheiro da apólice ia para o fundo. Quando mais cedo morressem, mais o fundo valorizava, mais rendível era o investimento.

Pelos vistos esta versão 3 é mais “simples”. Não há apólices de vida. Foram seleccionados 500 americanos idosos e “especialistas médicos”, do banco, claro, calcularam a respectiva esperança de vida. O público só tem que apostar e se morrerem mais cedo do que essa previsão ganha o investidor; se morrerem mais tarde, ganha o banco. Deixando de lado a “esperteza” do banco que é juiz, ao determinar a esperança de vida, e parte interessada, fica a ganhar se ultrapassarem essa estimativa, como se pode classificar estes “investimentos” com a morte?

Uma seguradora tem um negócio montado e regulamentado, mas ter milhares de pessoas esperando que os tais seres humanos morram depressa para o seu “investimento” ter o maior retorno, não sei se se lhe deve chamar imoral, indecente ou outra coisa, mas que não está certo, não está. Ou então, por outras palavras, este não é o mundo em que eu quero viver. Ou ainda, não é assim que eu concebo que se possa ganhar a vida.

07 fevereiro 2012

Nada de novo

Depois de um longo intervalo apetece dizer “nada de novo” em jeito de desculpa. E, realmente, apenas confirmações do que se sabia… vamos por partes.

Cavaco Silva – as limitações eram conhecidas, as expectativas baixas mas agora não sobra nada. Não temos mesmo “Presidente” e por vários efeitos cumulativos – queixar-se da redução das pensões no principio, dizer que não chegam quantificando uma e omitindo a mais elevada (não sabe quanto somam mas sabe que não chegam), recusar o principio básico que a todos é pedido de ajustar o que gasta ao que ganha e referir as poupanças, sabendo que uma boa parte dessas “poupanças” foi a negociata das acções da SLN/BPN que estamos todos a pagar, é dose a mais para uma intervenção só: o homem “morreu”.

Inverno árabe – depois da Primavera de esperança tunisina, do Verão quente líbio e do Outono “democrático” egípcio dos islamistas e salafistas, temos o Inverno sírio. Se no início até se podia acreditar que na base estava um movimento genuíno e popular, a guerra na Líbia mostrou que algo mais havia para além dos cartazes, as eleições provaram que a alternativa democrática é o islamismo, mais ou menos moderado, se é que existe essa variante, e a Síria é o seguinte. Al-jazira, Qatar.. há aqui uma força “externa” que “ajuda à democracia”. O Ocidente entrou a contra-gosto neste comboio na Líbia e agora está num comboio desconfortável e não sabe que fazer… Entretanto, há centenas de sírios mortos por semana mas vítimas são apenas os pobres palestinianos…

Corolário: os mortos no campo de Port Said e o que se seguiu. Se é apenas ódio “tribal” transladado ao futebol é preocupante; se é algo mais e é mais preocupante. A solução é a democracia ?

Europa – Já perdi as contas às cimeiras e às formulações e reformulações dos “fundos”. Senhores: a Europa no seu global está mais pobre e assumam isso. Se, apesar das aldrabices gregas, os lá do Norte continuam a achar que a solução é deixar cair os membros gangrenados estão enganados e vamos definhar todos.

Carnaval, pelos vistos. Pelos vistos a tolerância de ponto é um direito adquirido; pelos vistos a falta de disponibilidade dos funcionários públicos condena as celebrações – há assim tantos funcionários?!; e, pelos vistos, uma dia a mais ou a menos não faz diferença – claro que não, quando há gente excedentária que apenas precisa de acelerar um pouco depois para compensar.