02 março 2009

Religião e não



Sabemos que os autocarros tendem muitas vezes a serem agressivos. Agora, o que não imaginávamos era que se pudessem tornar protagonistas de uma luta de convicções, daquelas que fazem correr rios de tinta e daqueles rios que nenhum verão jamais secará.

Há os que dizem: “Provavelmente Deus não existe, portanto deixe de se preocupar e goze a vida”; e os que respondem: “Deus, sim, existe, goza a vida em Cristo”. Passo ao lado da nuance entre o a "provável" britânico da negação e a castelhana "rotunda" afirmação do sim (também não é relevante comparar o aspecto profissional e charmoso do "não" inglês com o tosco improvisado do "sim" espanhol e até a diferença de tamanho das fotos é apenas resultado da googleada).

A ideia do autocarro ateu nasceu em Inglaterra mas tinha que ser em Espanha, terreno propício a essas paixões entre cristãos e ateus, sim porque de paixões se trata, que a guerra iria estalar. Li que a campanha inicial inglesa tinha o apoio do Sr Richard Dawkins, um professor de Oxford, autor do best-seller “A desilusão de Deus”; livro que li em parte, mas que não me motivou por misturar a causa com o efeito.

Ou seja, na minha opinião, a religião/espiritualidade é uma consequência da natureza humana, diversamente declinada, conforme a cultura em que se manifesta. A religião/instituição é uma organização consequente. Não é a religião/instituição que gera a religião/espiritualidade mas o contrário. Por isso, um mundo sem religião/instituição não é equivalente a um mundo sem religião.

Agora, pode haver um mundo sem religião? Antes de avançar vamos separar as águas. Dentro do universo dos crentes haverá uma ínfima minoria de gente informada, “pura” e religiosa pelos princípios. No entanto, para a grande maioria, a religião é, desculpem a provocação, apenas aquilo que os impede de serem animais básicos. Para quem anda com a cabeça roçando o chão, a religião é o que os “obriga” a levantá-la de vez em quando e ao mesmo tempo lhes dá uma norma de conduta social de forma a que o mundo não seja metade polícias e metade ladrões.

Um mundo sem religião será um mundo em que todos são capazes de levantar a cabeça por iniciativa própria, sem ser necessária uma corda amarrada ao pescoço que a puxe para cima e em que individualmente cada qual encontra e segue uma norma de conduta sem ser por temor ao fogo eterno do Inferno ou equivalente. Será isto uma religião? Não sei, mas estou certo que para desfrutar e fazer desfrutar a vida não precisamos de questionar e discutir a existência de qualquer Deus…

2 comentários:

APC disse...

Confesso-me sem a energia necessária para me fazer a uma apologia do die religion sie ist das opium des volkes, e do Anti-Cristo de Nietzsche e de mais umas quantas que perfazem os trilhos das minhas convicções e críticas. Apenas te deixo isto, que é para não dizer que não te deixo nada:

“Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é omnipotente. É capaz, mas não o deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja-o? Então, por que existe o mal? Não é capaz e nem o deseja? Então por que lhe chamamos Deus?” (Epicuro)

... Ah, e um abraço!

Carlos Sampaio disse...

Nops..

O anti-cristo é apenas outro cristo e não a ausência de cristo.

E, se o ópio é o que faz levantar a cabeça, a religião pode ser o ópio mas penso que Marx se referia mais ao aspecto anestésico do que ao sonhador..

Quanto ao texto de Epicuro: "Deus" é apenas a projecção do que não somos, com tudo o que isso pode ter de limitado, grandioso e, porque não também, ingénuo... vá lá não provoquem assim tanto a sua figura!