10 outubro 2007

Causas e Messias



Um dos livros “subversivos” que em tempos idos tive foi o “Diário” de Che Guevara, escrito pelo próprio no último período da sua vida, até poucos dias antes de ser preso e abatido pelo exército boliviano, faz agora 40 anos.

A imagem mais marcante que me ficou desse livro foi a generosidade. Provavelmente que hoje a minha leitura seria diferente, menos inocente. Mas, mais do que essa questão óbvia, talvez valha a pena perguntar o que seria o “Che” hoje e que leitura faria ele, ou um seu “sucessor”, da Cuba actual, ou da Venezuela, ou da Bolívia. Libertadas, é certo, das ditaduras militares da guerra fria mas governadas por “revolucionários” de esquerda, não necessariamente exemplares em termos de respeito pelas liberdades e direitos do homem.

Ter-se-ia tornado o Che um homem do “aparelho”? Penso que não. O seu afastamento de Cuba após a vitória da revolução o indicia.

Seria “Che” um revolucionário em luta contra essas ditaduras populares? E, se o fosse, em nome de quê?

Ou seria puramente um “velhinho” amargurado, vendo a causa pela qual ela tinha estado disposto a dar vida falida?
Ou não teria outra alternativa que não fosse ter morrido como morreu?

Com ingenuidade, claro, nos anos 60 era possível ainda acreditar em causas revolucionárias nobres de alma e ver esta figura quase romântica encarnar como o seu messias.

Qual a causa nobre dos dias de hoje e pela qual haja gente pronta a morrer?
Só estou mesmo a ver o islamismo com Bin Laden como o seu messias ...
Que tempos foleiros estes!

PS: Foto de Alberto Korda

6 comentários:

mac disse...

Não li o livro, mas vi o filme. Também me impressionou essa generosidade, mas também a preocupação com o próximo. Uma preocupação verdadeira e sem segundas intenções.
O sonho de unir a América do Sul e a preocupação com os indios, parece-me um misto de Hugo Chavez com Morales, mas sem a prepotência e sede pelo poder destes senhores.
É como tu dizes...Talvez o único final "feliz" para Che, seria a sua morte.

Carlos Sampaio disse...

MAC

O diário de que falo é diferente do do filme que se deserola numa fase jovem da vida do Che.
O "meu" diário passa-se na última fase da vida dele, depois de muita água ter passado sobre as pontes.

Quanto a um final possível ser um final "feliz" não estou muito de acordo...

mac disse...

Quando falo em final feliz, quis falar em relação às perguntas que deixaste, perguntas essas que ponho muitas vezes a mim mesma. E se Che continuasse vivo, como seria? Como se teria adaptado a estes tempos? Por isso falei em final feliz. Tendo em conta os seus ideais, se calhar o "melhor" (e repara que está entre aspas) que poderia ter acontecido foi ter morrido. Assim como John Lennon, ou Jesus Cristo...Quem tem a força dum ideal tão belo como estas pessoas tinham, essa imagem bela só se mantém com a morte prematura dos seus defensores (não sei se me expliquei muito bem...)

Carlos Sampaio disse...

Mac

Feliz é um conceito relativo, não é? :)

Groucho KCarão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Groucho KCarão disse...

Me permita discordar. Acho que cada época e cada lugar oferecem certas oportunidades e condições de se "revolucionar". Com base nisso, acredito que Cuba, Bolívia e Venezuela, hoje (assim como também o Equador parece apontar), vivem um belíssimo momento de oposição à visão dominante que põe o lucro acima da vida humana. Acho, inclusive, que Che foi combater na Bolívia mais por achar que lá seria mais necessário do que por discordar do rumo que Cuba tomou. Antes dos outros revolucionários cubanos, Che já havia se tornado socialista, foi talvez o primeiro; portanto, era o menos "democrático" (no mau sentido, em que costuma ser usado). "Direitos humanos", pra mim, são o oferecimento de condições mínimas de sobrevivência pra toda a população de um país, e isso Cuba faz melhor que qualquer outrop país em condição econômica semelhante à sua (ou condição melhor; basta citar meu Brasil). Se Cuba, ou qualquer outro país em estado mais ou menos revolucionário, faz ações reprováveis, é porque vive na realidade, com base na realidade: tudo é imperfeito. O próprio Che matou muita gente, durante a guerrilha. Enfim, espero ter acrescentado algo à discussão. Muito boa a postagem. Escrevi no Português do Brasil, espero que não haja problemas quanto a isso. Dê graças a Deus por eu não ter escrito em "lingua brasilêra", como costumo fazer em meu blog ou em outros locais da internet brasileira. Brigado. Axé.