04 julho 2007

De todas as vezes



De todas as vezes ao desembarcar, quando se volta a tocar o chão, há um estremecimento de chegar e o corpo parece querer rodar.

Lançados numa terra nova, aonde se chega ou à qual se regressa, há sempre que reaprender a andar. E, nesta súbita quebra de tensão não medida, é violento o momento de a bagagem aterrar.

Dentro em breve vou ter que desembarcar, talvez à chuva ou nevoeiro ou noutra hora incerta. E, enquanto o primeiro pé, do degrau para a terra voar, vou tentar não olhar, vou-me esquecer de hesitar.

E deixando um bocadinho de mim para trás, seguindo a viagem sem desembarcar, encontrarei sempre uma razão para voltar a embarcar.

E tantos destes bocadinhos, em tantas estradas, comboios e aviões; saturado da falta de razões para não cair ao parar.

5 comentários:

M. disse...

Tenho vindo subindo desde lá de baixo, que já aqui não vinha há algum tempo, e digo que gosto mesmo do teu pensamento posto em palavras.

Carlos Sampaio disse...

Manuela

Obrigado pelas palavras simpáticas.

Maria Manuel disse...

Esta fotografia está... cinematográfica... Cena de abertura de um filme misterioso que promete...

APC disse...

Bonito apontamento!
"Lançados numa terra nova (...) há sempre que reaprender a andar."

Carlos Sampaio disse...

MM

A foto é simplesmente da estação de S. Bento (leia-se "São" bem aberto) e o fumo será apenas de algum problema de manutenção das locomotivas da CP.

APC
Não é óbvio?