21 maio 2006

Uma criança não é um animal de estimação

Irritam-me profundamente as posturas “modernas e avançadas” segundo as quais todos os enquadramentos são válidos para criar e educar uma criança.

Adopção por casais homossexuais? Claro! Tudo é melhor do que um lar de órfãos, mesmo que a criança fique a olhar para os pais adoptivos e a tentar descobrir com quem deve ter a conversa de pai e com quem deve ter a conversa de mãe. Apesar de não ser técnico, entendo que pai e mãe têm papeis distintos.

Produção independente só com mãe. Claro! E se o estado não apoiar os casos de infertilidade, como se apresta a fazer, isso é um sinal retrógrado, discriminatório e até potencialmente anticonstitucional. Ok! Depois de extintos os “filhos de pai incógnito” passaremos a ter “filhos de dador incógnito”. E, já agora, invocando a constituição, porque não também os “homens sós”? Porque não poderão ter filhos? Bastaria arranjar quem cedesse um útero por 9 meses. Neste caso, as crianças seriam “filhos de incubadora incógnita”.

Nesta senda de inovação e modernidade, também poderíamos ter adopções em “time sharing”. Um casal ficava com a criança às 2ªs, 4ªs e 6ªs e outra família nos restantes dias. Para as crianças seria melhor do que o orfanato e as famílias de adopção não teriam a chatice de os aturar todos os dias.

Uma criança não é um animal de estimação giro e querido que ser quer “ter”. Eu entendo que uma criança é fruto de um projecto plenamente assumido por um homem e uma mulher, biológica, afectiva e socialmente falando e, em situação normal, a criança deve ter um pai masculino e uma mãe feminina.

Os principais interessados, que são as crianças não se podem manifestar nem opinar. Agora o que eu sei, e sei mesmo, é que não gostaria nada de, no caso de me ter ocorrido alguma infelicidade, imaginar os meus filhos adoptados por um casal homossexual. E não me sinto nada retrógrado por isso. Uma criança é um ser humano com direitos que devem estar acima da criatividade social de quem é maior de idade.

4 comentários:

Manolo Heredia disse...

Com os avanços da medicina, já deve ser possível implantar um útero num homem e fazê-lo inseminar artificialmente. Depois injectando certas hormonas com uma máquina especial, o útero "pensa" que está implantado numa mulher, e prossegue o seu trabalho.
Aparecerá sempre gente gritando pelo direito à reprodução assistida praticada em homens!
A ética e a moral morreram. Dentro de pouco tempo passará a valer tudo!
A culpa é da Ciência que, entrando na esfera da Biologia e da Vida, pensa que descobriu que os seres vivos são só máquinas e, como as outras máquinas, vale tudo para satisfazer os caprichos dos clientes.
Haverá alguém verdadeiramente com necessidade de ter um Ferrari?

Carlos Sampaio disse...

Caro Manolo

Por principio acho que saber mais nunca pode ser mau. Tem que se saber utilizar o novo saber, mas não me parece que a solução esteja em limitá-lo.
Neste contexto, e nomeadamente na adopção, o problema não tem a ver com os avanços da Ciência mas puramente com uma atitude “moderna”, “criativa” e desrespeitadora da dimensão humana das crianças.

Anónimo disse...

Antes de mais ... Parabéns !

"...Produção independente só com mãe. Claro!..." : alguma vez ouviu, durante toda a dita 'discussão pública' sobre o aborto, alguém levantar a questão do papel do pai na decisão ou não de abortar ?
Ouvi sempre que a decisão era da mãe, que era uma luta das mulheres, etc.
Ainda hoje não entendo ( e sou mulher ) como os homens ainda não levantaram a voz para dizer que o filho que vai nascer também é deles !
O resto ... aberrações dos tempo modernos ( desculpem-me a franqueza ! )

Carlos Sampaio disse...

Cara Anónima

Obrigado pela “solidariedade”.
Sobre a autoridade feminina exclusiva sobre o aborto, transcrevo excerto de texto que foi publicado no Público como carta ao director em 12 Setembro 2004, na altura da polémica do Borndiep

“Do lado dos da “opção”, é patético ver as barrigas pintadas com o “aqui mando eu”. Muito próximo da atitude possessiva de fêmea que, no reino animal, goza de poder absoluto e de direito de vida e de morte sobre as suas crias. Não me parece lá muito moderno nem civilizado”

Ainda sobre estas exigências do direito à diferença, ver este