03 maio 2006

A terra é redonda


Terminei recentemente a leitura de mais uma obra sobre uma das personagens históricas que mais me fascina: Fernão de Magalhães. Descontando algumas dúvidas que se possam ter sobre o rigor histórico de tudo o que é dito, a sua empresa é verdadeiramente monumental.

Para lá das dificuldades “normais” daquelas expedições, Fernão de Magalhães tem algumas acrescidas. Ele vê a sua autoridade constantemente minada pela tradicional desconfiança “ibérica”. Vive pressionado em permanente instabilidade e sendo continuamente questionado, ao mais alto nível, sobre suas capacidades e intenções. Enfrenta um motim em grande escala que parece irreversível mas que ele consegue controlar e impor a sua autoridade.

Sempre firme na liderança e com uma determinação verdadeiramente de aço, conduz a frota para Sul em busca de uma passagem não localizada nem garantida, apenas suspeitada, em condições climatéricas terríveis; atravessou o Estreito assustador que mesmo depois de conhecido continuou a ser de navegação extremamente difícil e, finalmente, cruzou penosamente o Pacifico em 98 dias sem ver terra.

Curiosamente, é quando o pior está passado e já se encontra nos limites do mundo conhecido que Fernão de Magalhães parece perder de vista o objectivo da expedição, acabando por se envolver em querelas tribais que lhe custariam a vida. Um fim inglório depois de ter ultrapassado com sucesso as dificuldades maiores. Parece identificar-se algo de Ícaro que queima as asas por excesso de confiança e de ambição.

O facto de não ter completado ele mesmo a viagem e sendo desvalorizado pelos portugueses por ter estado ao serviço de Espanha e pelos espanhóis por ser português, levou a que nunca tenha recebido o reconhecimento devido e correspondente à dimensão do seu feito. Sintomático que na minha Diciopédia “velhinha”, Fernão de Magalhães fique pelas 2 linhas e meia de texto enquanto Vasco da Gama tem direito a 14 linhas!

E é pena porque constitui um exemplo de tenacidade e de capacidade de liderança realmente admirável e que merecia ser bem conhecido e estudado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto que tenhas escolhido este transmontano puro e duro como uma das tuas figuras de eleição. Por "contágio" de entusiasmo também já li sobre ele e acho justa e merecida a homenagem!