28 outubro 2005

Ainda Antero...

Na sequência da leitura da “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”, que me sugeriu uma entrada anterior aqui no Glosa Crua , resolvi revisitar a biografia de Antero de Quental. E, confirmei a minha inquietação. Antero tinha uma enorme capacidade intelectual, curioso, interessado por tudo, com grande acutilância de visão sobre o mundo que o rodeava, com excelente capacidade de diagnóstico e de expressão. Mas....

Mas, retirando a obra literária e sua influência sobre um meio restrito, a realização de Antero é infinitamente inferior ao que a sua personalidade e capacidades poderiam fazer prever. Não diria nula, mas quase...

Antero insurge-se, e muito bem, contra a ociosidade da fidalguia em detrimento de um esforço sustentado de criação de riqueza. No entanto, que projecto levou ele a termo com sucesso?

E, aqui, acho que reside um problema intrinsecamente português. Curiosidade ampla, análise fina, crítica acutilante mas... incapacidade de planear e de realizar....incapazes de, a partir de um dado momento, suspender os “mas”, definir claramente o caminho, assumi-lo e ir até ao fim.

Outro problema aparente, que não diria tipicamente português, é a incoerência. A facilidade e a desenvoltura com que se critica as nódoas na roupa do vizinho, tendo a nossa própria camisa suja.

1 comentário:

Carlos Sampaio disse...

Bom... Se calhar o texto talvez esteja um pouco injusto e redutor.

Não digo que todos os portugueses padeçam de esquizofrenia, assim como também não parece que "todo o problema" de Antero se reduza à sua doença. Mas.... acho que há algo "assim", que encontro aqui e acolá, desta "doença".

E, para acabar, o importante não é denunciar. É ter consciência e agir mesmo... e aí sinto-me realmente sem nódoas (perdão pela imodéstia)