Dois livros acima, muito distintos, mas sobre o mesmo tema. O
Estado de Israel.
Sim, já estou a imaginar as reações de repulsa e de “lá vem
este branquear os genocidas”. Sim, Israel tem ações condenáveis, não tenho grande
simpatia por Netanyahu e muitíssimo menos pelos seus parceiros de geringonça Ben-Gvir
e Smotrich. Isso, no entanto, não justifica o “interesse” especial que certas
forças têm em criticar e condenar Israel de forma desproporcional. Al Assad e
Putin bombardearam civis em Aleppo e não só, recorrendo inclusive a armas químicas
para combater o Estado Islâmico, com um balanço final de meio milhão de mortos…
enfim, vá lá. Saddam Hussein terá morto cerca de um milhão de pessoas? A islamização
do Sudão conta 2 milhões mortos? Enfim… coisas que acontecem, não vale a pena protestar
muito, nada adianta e mais exemplos se poderiam acrescentar. Nesta guerra em
Gaza acredita-se piamente no “Ministério da Saúde do Hamas”, clamando por cada
morto civil, numa guerra em que aparentemente nunca há baixas militares palestinianas.
Israel tem um padrão de reação desproporcional. Deste-me um
golpe, levas dois; pensa bem para a próxima. Esta aproximação é apreciada e utilizada
vantajosamente por Hamas e companhia, gente para quem quantos mais mortes, mais
mártires, melhor!
Apesar de tudo o que se pode e deve criticar a Israel, este país,
a sua fundação, crescimento e consolidação é um exemplo de tenacidade, de perseverança,
de ultrapassar obstáculos, descobrir soluções, gerar de conhecimento e… podíamos
muito aprender com eles…
A tensão na região começa com a diplomacia de guerra da Inglaterra
na I Grande Guerra, que promete tudo a todos. Um lar para os judeus a troco da
sua influência nos EUA para estes entrarem na guerra, uma Grande Síria aos
árabes haxemitas para os motivarem a rebelar-se e combaterem os Otomanos (Lawrence
da Arábia é o embaixador da causa) e, ao mesmo tempo, combinam com a França a
posterior repartição da região entre os dois países. Terminada a guerra, as
expetativas de todos são incompatíveis e a tensão dispara. O então Secretário Colonial,
Wiston Churchil inventou dois países para os haxemitas, Iraque e Transjordânia (atual
Jordania) e deixou a Palestina indefinida. De repente, em vez de se discutir a
repartição do bolo inteiro, todo o Médio Oriente, passou a ser disputada apenas
a última fatia, a Palestina.
Ao longo das décadas de existência do estado judeu algumas
coisas óbvias podem ser apontadas e recordadas:
- Desde a primeira hora todas as guerras foram despoletadas
por árabes e fações árabes, que não aceitam menos do que a sua hegemonia na
região. Israel reage, defendendo-se… e contra-atacando, mas nunca deu o
primeiro passo.
- Em 1948 havia 851 mil judeus nos países árabes, em 2018 estavam
reduzidos a pouco mais de 3 mil. Os que saíram e seus descendentes não estão a
viver em campos, financiados por uma agência especifica da ONU. Refugiado é
temporário. Quando não regressam ou não se integram é por que não querem ou não
os deixam e será uma forma de deixar a ferida viva. Os próprios judeus expulsos
não o desejariam, mas alguém está a ver os países árabes a receber e dar cidadania
plena a todos os seus descendentes?
- Desde o fim da guerra do Yom Kippur de 1973 que tem havido
tentativas de estabelecer a paz entre Israel e seus vizinhos, com avanços notórios.
O sucesso das mesmas é, no entanto, posteriormente dinamitado por alguém que relança
as hostilidades. Hoje é o Hamas, apoiado pelos seus padrinhos Irão e Qatar.
- Institucionalmente Israel está em paz com cada vez mais vizinhos
e com processos de colaboração que chegam ao domínio da defesa, concretizado aquando
dos últimos ataques do Irão.
. O apoio financeiro e logístico do Qatar (Irmandade Muçulmana)
ao Hamas é talvez o maior cancro atual na região. Todos que quiserem saber,
sabem que daquele movimento nada de bom se pode esperar, nem sequer para os
próprios palestinianos que eles reclamam defender. Qual o objetivo do Qatar em
alimentar e promover estes bárbaros?!
- Mesmo que se possa discordar e criticar o que se passou em
1948, Israel é hoje um país consolidado e a História é mesmo assim. Não há
marcha atrás a partir de certa fase, A reivindicação do “From the river to the
sea…” é uma cantilena irrealista. Alguns até desconhecem o significado concreto
da mesma, mas acham giro. Quem a canta está redondamente enganado e de forma
nenhuma do lado da solução.
- A ocupação da Cisjordânia e respetivos colonatos são um
entrave importante. No entanto, não são irresolúveis no âmbito de um acordo de
paz, tal como foram desmantelados os existentes em Gaza, quando Israel abandonou
o território.
- Uma certa opinião pública ocidental adora os lenços
palestinianos, como no passado gostava das camisas à Mao, das boinas à Che Guevara
e de símbolos de outras causas. O fundo da motivação tem muito em comum. O ser
contra o “seu mundo”. Da mesma forma como os contestatários passados nunca
iriam viver na China maoista, também os ativistas atuais nunca se instalarão no
Irão (LGBTs nem se fala). Convinha ganharem a consciência de que não estão a
ajudar os palestinianos, mas apenas a branquear manipuladores que os usam para
causas e modelos de sociedade que certamente não querem mesmo ver implantados na
sua própria casa.
Por hoje, é tudo e espero não estar a pregar no deserto (se
bem que no passado alguns tiveram sucesso nesse enquadramento 😊
)

4 comentários:
Adorei ler este texto. Parabéns.
Júlio Resende
O autor da frase " eu sou a voz que clama no deserto" não consta que tenha tido muito exito. Foi S.João Baptista e segundo a biblia morreu decapitado,por dizer coisas pouco agradaveis sobre o poder vigente.Dois milenios depois continua a bandalheira.
Obrigado Júlio Resende
Jorge Neves, longe de mim fazer de S. João Batista e acabar decapitado às mãos de um frouxo Antipas, manipulado por uma viperina Herodias...
Agora, se 2000 anos depois ainda se fala do homem, as preces não terão sido completamente em vão :)
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