06 fevereiro 2019

Não ser Jamaica


Irrita-me um pouco a moda de por tudo e por nada sermos todos qualquer coisa. É que para sermos mesmo todos assim uma coisa, essa coisa teria que ser muito pequena ou muito grande.

Até um ministro disse “Jamaica somos todos nós”, pelo tal bairro problemático no Seixal onde os amanhãs não cantam e onde só lá falta ir o Papa e o arcanjo S. Gabriel em pessoa, já que o celestial não se deve poder apresentar. Não, senhor ministro, é uma tonteria pretendermos sermos todos Jamaica, porque julgo que quem lá está gostaria que o seu número diminuísse e não aumentasse. E também acredito que muitos portugueses que lutam afincadamente por cada fim de mês, pagando os seus impostos e as suas habitações não se sentirão muito Jamaica.

O Jamaica é uma situação excecional que nunca deveria ter acontecido e, a acontecer, nunca deveria ter tomado a dimensão e a duração que tomou. Independentemente da avaliação humanitária que ver seres humanos a viver naquelas condições obriga, a solução não vem de palmadinhas nas costas nem de sorrisos solidários, devidamente mediatizados. Também não faz sentido reduzir isto a um filme de policias contra ladrões ou, mais moda, polícias maus contra clandestinos bons.

No cortejo de figuras que por lá desfilaram, surfando a onda mediática, são todos… políticos.


Foto: Diogo Ventura / Observador

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