25 fevereiro 2019

Não me batam


Sim, não achei graça nenhuma à imagem típica de Cristina Ferreira trajada à vianesa. Para lá dos detalhes de dobrar o lenço para a frente ou para trás, se o ouro é quadrado quando devia ser redondo, descentrado ou simétrico, há ali uma postura “urbana” a visitar o tradicional que me irrita. Como com os trajes “populares” das marchas dos santos “populares” que vejo como uma aproximação ao “povo” leviana, desrespeitosa e não consentida.

Este meu incómodo com o falar do povo não se limita a estas coisas ligeiras de gosto duvidoso. Há poesia, alguma mesmo de enorme qualidade literária, que quando entra em panegíricos idílicos de serras, searas, roupas de linho e réstias de romarias, me provocam um pouco o mesmo efeito. Desculpem lá, não me batam…

Por simples e rude que possa parecer o mundo rural e respetiva cultura tradicional, não deverá ser traduzido como um simpático postal ilustrado engraçado, nem pintado como uma macedónia de coisas basicamante castiças, nem sublimado em sinfonia de perfumes bucólicos. Ele comporta coisas pouco engraçadas, outras chocantes e os odores não são todos agradáveis. Lidar com a rudeza é tarefa bastante delicada…

Agora, aproveito, e não me batam, a todos os que se indignaram com a tal dita figura, olhem por favor, com esses mesmos olhos, para outras coisas que por aí se vêem, a saber, a exemplo, trajes masculinos e música.


Foto DR, JN

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