29 junho 2018

Jogos sem fronteiras


Cantava Peter Gabriel que os “Jogos sem Fronteiras” eram uma guerra sem lágrimas. De facto, nas competições onde há uma bandeira nacional à frente das equipas gera-se uma motivação especial, que se for sucedâneo de guerra, enfim, tanto melhor. Quantas pessoas não ligam nada ou muito pouco ao futebol e se tornam incondicionais e entusiastas adeptos da seleção, quando está em causa a bandeira?

Penso que este Mundial na Rússia, teve uma importância fundamental para o povo iraniano. Sem conhecer a fundo a contexto, mas … sinto que a campanha da sua equipa nacional marcou fundo.

Ao falar em Irão, é necessário separar a elite dirigente que vemos na televisão das outras pessoas que aí vivem, claramente do nosso mundo e a querer viver como no nosso tempo, no nosso mundo. Apesar do divórcio existente entre elas e os seus dirigentes, não existe, naturalmente, divórcio entre elas e o seu país, ainda por cima um país com a personalidade e a história da Pérsia.

Pela (re)pressão interna e pelas sanções externas, a vida não é fácil e existe um sentimento de fragilidade e uma busca de dignidade que podem atingir um nível dramático. Começou por a Nike se recusar a fornecer sapatilhas, estupidamente invocando um estúpido embargo. Uma campanha humilhante iria doer muito.

Assim não foi e terem estado até ao último segundo do último jogo a tentarem e a acreditarem na qualificação foi uma catarse coletiva, um exorcizar de complexos e medos, que certamente ficará na memória do país. Os jogadores deixaram tudo o que tinham e o que não tinham naquele relvado. Os(As) iranianos(as) sentiram-se parte de pleno direito da primeira divisão das nações do planeta. … e melhores tempos chegarão.

PS: Na imagem, a laranja é Portugal, como em muitas línguas do Médio Oriente, mas, ok, não nos vamos zangar … :)

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