12 junho 2018

Depois do Maio


Cinquenta anos depois do Maio 1968, vivemos o Maio de 2018. Eu já era nascido no tempo do primeiro, mas não o suficiente para ter uma memória e um sentimento direto. Fica-me a ideia de que ficou na história mais pelo simbolismo do que pelos factos e pelo fundo.

Desculpem-me a dissonância, mas não consigo ver a necessidade de fazer voar paralelepípedos pela cidade para, entre outros, reivindicar o direito de os rapazes poderem entrar nas residências universitárias femininas. Dos testemunhos da época, também me parece que o famoso “É proibido proibir” seria uma forma formalmente simplificada do “Nós proibimos que nos proíbam”, fazendo o “nós” e o “nos” aqui acrescentados uma diferença grande.

França tem uma grande tradição e especialidade em romantizar (perdoem-me os romancistas) as suas revoluções. Mesmo a outra, a grande, a de 1789, por trás de uns princípios genericamente bonitos e meritórios teve uma prática miserável, para não dizer criminosa, detalhe habitualmente ignorado no boca cheia da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.

50 anos depois do 68, voltaram a existir distúrbios nas universidades francesas. Ao que parece por o governo tentar impor curricula específicos para acesso aos cursos. Numa equivalência local, alguém que fez o 12º ano em humanísticas, pode exigir a liberdade de entrar num curso de engenharia, mas certamente que não lhe será fácil avançar se ignora toda a matemática do secundário. Havendo taxas de abandono elevadas e recursos cada vez mais limitados…

A fotografia acima (Gonzalo Fuentes, Reuters), um simples exemplo e há mais no mesmo registo, é do estado em que ficou uma das faculdades em Paris após a sua ocupação dos defensores da “liberdade” contra a “seletividade”. Pelos vistos já não há paralelos para retirar da calçada (talvez já não haja mesmo de todo calçadas) e não se pode romanticamente abrir a cabeça aos polícias, mas não consigo entender nem aceitar esta ligeireza e desrespeito pelos bens públicos de um local que eles pretendiam simbolicamente proteger. Apetece dizer que com defensores assim, dispensam-se atacantes. Sobre as razões para a ignição destes rastilhos em meio estudantil, isso é tema para outra conversa.

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