08 maio 2018

Gilles


8 de maio de 1982, faz hoje exatamente 36 anos. A sessão de treinos do GP de F1 da Bélgica está a terminar, mas há um piloto que quer absolutamente superar o tempo do seu colega de equipa. Os pneus de qualificação já estão gastos, mas para ele, desde que o motor trabalhe e o carro tenha rodas, os braços não baixam.

Esse piloto de combatividade inesgotável, que nunca desiste, é Gilles Villeneuve. Na corrida anterior, quando os dois Ferrari rodavam tranquilamente na frente e vieram ordens da box para abrandar, Didier Pironi ultrapassou-o inesperadamente na última volta, roubando-lhe a vitória. Uma traição inaceitável e imperdoável dentro dos princípios puros de Gilles. Agora, ele quer provar que é o mais rápido e lança-se para a pista, para tudo. Um acidente estúpido, como a maioria, com Jochen Mass em marcha lenta, faz o Ferrari levantar voo, partir-se ao tocar no solo, projetando o corpo do pequeno canadiano, que terminou ali a sua vida e a sua carreira de piloto de F1. Tinha começado no grande prémio de Inglaterra de 1977, 5 anos antes.

Gilles foi vice-campeão em 1979, disciplinadamente atrás de Jody Scheckter, piloto principal da equipa e venceu 6 grandes prémios, apenas. Numa ordenação objetiva de pilotos por resultados, Gilles não estaria no top 10 e provavelmente nem sequer no top 20. Porque deixou então tantos órfãos afetivos, porquê na Galeria Ferrari em Maranello tem mais destaque do que outros que foram mesmo campeões com os carros vermelhos? Talvez porque para lá de um piloto muito rápido, Gilles nunca desistia, nunca, e como ser humano era duma frontalidade, integridade e lealdade irrepreensíveis.

Porque, mais do que das 6 vitórias, nos recordamos de 6 outras coisas

1- De na estreia em Inglaterra 1977, a pilotar pela primeira vez um F1, modelo obsoleto do ano anterior, se ter qualificado à frente de um dos pilotos oficiais da equipa, com carro novo, top e tudo.
2- Por numa sessão de treinos à chuva nos USA em 1979, ter dado 9 segundos ao seguinte.
3- Por no Canadá 1981 ter feito a maior parte da corrida com a asa dianteira obstruindo a visão e depois desaparecida, sem reduzir tempos, como se esse apêndice aerodinâmico fosse dispensável
4- Por na Holanda 1979 ter regressado à box em 3 rodas, para nada, mas sem deixar de lutar até ao fim
5- Por em Espanha 1981, com um carro nitidamente inferior à concorrência, ter vencido, controlado um engarrafamento de 4 perseguidores, que cortaram a meta todos a menos de segundo e meio.
6- Pelo GP de França 1979 e o seu duelo épico pelo segundo lugar com R. Arnoux, coisa sem paralelo.

E também porque os grandes condutores posteriores se revelaram de mau caráter, não hesitando em provocar intencionalmente um acidente nas últimas corridas, para sujamente tentar garantir o seu título. A saber: Prost contra Senna no Japão 1989; Senna contra Prost no Japão 1990, Schumacher contra J. Villeneube (o filho…) no GP Europa de 1997.

Grande piloto, grande homem, para sempre grande Gilles!

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