31 março 2018

Viver de pé


E eis que nos escondemos, quando o vento se levanta, por medo que nos empurre para batalhas duras
E eis que nos escondemos em cada amor nascente, que nos diz depois do outro, eu sou a certeza
E eis que nos escondemos, que a nossa sombra, por um momento, para melhor fugir da inquietação, seja a sombra de uma criança, a sombra dos hábitos que plantamos em nós, quando tínhamos vinte anos
Será impossível viver de pé?

E eis que nos ajoelhamos de estar meio tombados sob o incrível peso das nossas cruzes ilusórias
E eis que nos ajoelhamos e já recaídos por ter sido grande o espaço de um espelho
E eis que nos ajoelhamos enquanto a nossa esperança se limita a rezar, quando é demasiado tarde e já não podemos ganhar todos os encontros falhados
Será impossível viver de pé?

E eis que nos deitamos pelo mais pequeno amor, pela mais pequena flor a quem dizemos sempre.
E eis que nos deitamos para melhor perder a cabeça, para melhor matar o tédio dos reflexos de amor
E eis que nos deitamos do desejo parado, de prolongar o dia, para melhor cortejar a morte que se prepara para ser até o fim a nossa própria derrota
Será impossível viver de pé?

Tradução livre de “Vivre Debut” de Jacques Brel.

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