09 agosto 2011

Indignação

Não, não é sobre os indignados que acampam nas praças públicas, especialmente em Espanha (apesar de um espanhol me ter comentado recentemente que são uma ruidosa… minoria). Nem é uma indignação especial minha. Essa chegará quando actualizarem o IMI em valor patrimonial e em taxa para evitar a falência das autarquias que se endividaram irresponsável e alegremente e, agora, adivinhem quem irá pagar...

Está longe esta questão e que é mais sobre a falta de indignação. Leio que a reacção do poder na Síria já matou mais de 2000 manifestantes. E lembrei-me da ofensiva Israelita em Gaza de 2008 que causou uns 1400 mortos e criou uma ruidosa indignação em meio mundo. Sem pretender comparar qualitativamente e entrar em considerações sobre se a intervenção de Israel era muito ou pouco justificada ou desproporcionada, não me parece que um exército disparar e abater assim indiscriminadamente milhares dos seus concidadãos que manifestam nas ruas possa merecer menos indignação. E não a vejo …!

05 agosto 2011

A nuvem informática e o efeito de estufa

Sou do tempo em que a transmissão de dados mais frequente era por linha telefónica com uns modems ranhosos e cantantes, que com sorte chegavam aí a uns 1200 baud, uns 120 bytes/seg (esqueçam lá os Kilos e os Megas). Passar o equivalente a uma musiquinha de 3 minutos em MP3 seriam umas 6 horas e tal. Para lá do custo de utilização da linha, manter o canal sem cair durante esse tempo todo era outra proeza.

Ainda, antes de começar a transmissão propriamente dita, era preciso que o computador se entendesse com o modem, com aqueles fantásticos sinais de controlo, RTS – CTS – CD, etc . Até que conseguisse ter canal aberto para iniciar a transmissão propriamente dita, era um cabo de trabalhos. De tal forma, que eu achava fantástico que num simples ciclo de levantamento de Multibanco, o terminal conseguisse consultar a minha a conta e informar-me sobre o meu saldo naquele momento!

Mais tarde tivemos, já em casa, umas ligações mais rápidas - 9600 baud – 4 x mais! A musiquinha chegaria em apenas uma hora e meia, mas ainda nos cobravam ao tempo de navegação/volume de tráfego e, por isso, tínhamos algum cuidado de gestão da utilização dos meios. Talvez pela memória destes antecedentes ainda franzo o sobrolho quando vejo emails com muitos megas anexados.

Hoje não nos cobram tempo de ligação e muitas vezes nem sequer o tráfego. Até podemos, por “facilidade” ter a nossa informação algures na “dataesfera”, numa nuvem qualquer, e acedê-la com a maior facilidade de qualquer ponto. Já não é o terminal MB que se esfola a pedalar para ter acesso ao simples saldo da conta bancária; somos todos nós que com um “coiso” qualquer na mão, em quase qualquer sítio, temos acesso a tudo, muito rapidamente e sem custo/custo adicional de utilização. Tão rapidamente que navegamos e cruzamos oceanos de informação para trás e para a frente com a maior facilidade e ligeireza. Da informação que se descarrega qual a percentagem que realmente se lê/utiliza? A olho, entre coisas que abrimos e fechamos no instante seguinte, coisas que saltamos e até a publicidade, acho que se a chegar 50% já não é mau. No entanto, os outros 50% (ou mais) que andam aí para trás e para a frente gastam recursos, não gastam? E com esta nova moda da nuvem (in english cloud) faz sentido que eu tenha sistematicamente os meus ficheiros textos, músicas, fotos ou filmes algures no planeta e gaste infra-estrutura e energia nessa transmissão, mesmo que não o pague directamente, em vez de os ter no disco duro aqui ao lado? Eu acho que há aqui uma pegada de carbono que é uma verdadeira patada de dinossauro…!

02 agosto 2011

Multiculturalismo não é uma coisa a preto e branco

Dizem uns que a natureza dos atentados de Oslo foi uma desilusão para a direita europeia xenófoba. Se na origem do atentado tivesse estado um islamita, isso provaria a “razão” dessa direita e da sua argumentação de rejeição dos estrangeiros. Assim, terão ficado “contentes” os outros, os da outra “razão”, e que acham que a tal direita tem sérias responsabilidades no drama de Oslo.

Em primeiro lugar, e por muito execrável que seja o discurso de Jean-Marie Le Pen e do Vlaams Blok, estabelecer algum paralelismo entre o que sai dessa direita e o terrorismo islâmico é um absurdo de ignorância, distracção ou desonestidade. Dizer que a extrema-direita é responsável por Andres Breivik equivale a dizer que o Islão é responsável pela Al Qaeda...

Depois, a questão do chamado multiculturalismo não é qualitativa do tipo escolher entre maçã e salada de frutas: é quantitativa. Indo aos extremos: poucas pessoas se sentirão chocadas por encontrar um diferente no seu caminho quotidiano, mas poucas aceitarão, ao regressarem de férias, encontrarem na sua rua todas as pessoas diferentes em comportamento… Algures no meio fica o limite da tolerância ao diferente, que é dinâmico e evolutivo. E poderemos entender que se um supermercado na periferia de Paris parecer um da periferia de Argel, um francês “tradicional” não se sinta em casa. Se a mensagem da extrema-direita passa é por muita gente achar que o nível da “diferença” no seu quotidiano está superior ao seu limite de tolerância e será mais útil estudar isto do que simplesmente invectivar os “Le Pens”.

Para terminar, não acredito que a “Europa” esteja em risco de sucumbir a uma investida do Islão. Parece-me que o conflito principal, mas latente, é entre Islão e Islão: entre a leitura de um livro com 1400 anos e a sua interpretação no contexto social actual. Se considerarmos algum paralelismo nos ciclos, o século XV do cristianismo foi um período terrível de mudanças e de rupturas…